Chegou ao fim mais um qualificador aberto organizado pela CEVO, este que dava acesso a nada mais nada menos do que o qualificador fechado para o Minor Europeu, e está na altura de olhar para trás para ver o que falhou e o que podia ser melhorado neste qualificador que foi um autêntico pesadelo para mais de 500 equipas envolvidas no mesmo.

Ainda antes de entrarmos no desastre que foi o qualificador Europeu, convém recuar até ao anúncio oficial por parte da ELEAGUE sobre ter sido escolhida como a empresa organizadora do próximo Major de CS:GO, indiscutívelmente o evento mais importante do circuito e que ocorrendo apenas duas vezes por ano, necessita de todo o cuidado no que diz respeito ao seu planeamento e agendamento. Faz hoje 10 dias (não estão a ler de forma errada, sim 10 DIAS) que esse anúncio foi efectuado, juntamente com as datas dos Minors de cada região e respectivos qualificadores abertos/fechados que dariam acesso a cada um desses Minors, passo importante para qualquer equipa que ambicione chegar a um Major de CS:GO.


Não podemos ter qualificadores para Minors anunciados uma semana antes dos mesmos serem jogados.

Nenhum organizador é perfeito e todos possuem falhas no seu currículo, no entanto quando existe claramente uma plataforma que tem mais sucesso do que as restantes e que é referência para se realizar todo o tipo de qualificadores para os mais diversos eventos, não fazia sentido optar pela mesma em detrimento da atual?

A escolha da ELEAGUE para que fosse a CEVO a tratar dos qualificadores Europeus revelou-se um tiro no pé, uma bola de neve de más decisões com as quais não conseguiram lidar, crescendo e crescendo até o problema já não estar dentro daquilo que é possível resolver da parte deles. Quando temos uma plataforma como a FACEIT, que mesmo não sendo isenta de problemas de quando em vez, costuma dar uma boa resposta e tem um índice de satisfação elevado quer por parte dos jogadores, quer por parte dos organizadores e espetadores, talvez não tivesse sido de todo uma má decisão entregar a pasta dos qualificadores a essa plataforma.

A receita para o insucesso deste qualificador já estava a ser preparada e tinhamos no qualificador aberto da região CIS um exemplo claro de que os jogos não estavam a tomar o rumo correcto e que existiam bastantes problemas já intrínsecos à plataforma, tendo os mesmos sido varridos para debaixo do tapete. Desde casos de cheating até delays sucessivos, tivemos situações de jogadores que já tinham cadastro na própria plataforma e cuja participação no qualificador foi permitida a desvirtuar os resultados do mesmo até fases bastante avançadas da competição.


Casos como o da ASUS ROG EMEA eram perfeitamente evitáveis com uma melhor calendarização por parte da Valve.

O facto de este qualificador ter sido anunciado e preparado em cima do joelho arruinou por completo o calendário competitivo a diversas equipas que se viram forçadas a recusar a participação em eventos para os quais tinham aspirações legítimas (caso por exemplo dos dignitas e de outras equipas que desistiram do Qualificador Final ASUS ROG EMEA que está a ser realizado na Alemanha e que apura duas equipas para a fase final de um torneio cuja prizepool conta com $250,000).

Outro dos problemas que poderia ter sido facilmente evitado com um agendamento mais sério e com toda a atenção que um qualificador desta importância necessita prende-se com o facto de existir um único qualificador para apurar 8 equipas. Onde estão os tempos em que tinhamos quatro qualificadores abertos a apurar cada um 2 equipas? Estaremos nós a regredir no que diz respeito aos processos de qualificação para eventos deste calibre?

Quem joga a nível competitivo ou segue as equipas que participam e jogam a esse nível sabe o quão volátil e imprevisível um qualificador online pode ser, desde a equipa ter um mau jogo, ocorrer problemas de internet, mau ping, perder aquela ronda chave, apanhar uma equipa na bracket com uso de cheats que só será desqualificada rondas mais tarde ou mesmo apanhar o "tubarão" da bracket que em qualquer outro caso, poderia ditar a qualificação de uma equipa que agora ficará por terra. 


Os DIVIZON de Scrunk tiraram a fava, ficando com a seed #512 e com a eliminação frente aos Kinguin na RO 512.

Chegamos à sexta-feira, dia 13 de Outubro. Para uns, é sinal de muito azar enquanto que para outros não passa de uma superstição. Para todas as equipas que tiveram de participar no qualificador aberto e principalmente para a CEVO que teve de o organizar, este dia foi bem real e rapidamente tornou-se num pesadelo.

Com o início dos jogos agendado para as 19:00 de Portugal Continental neste qualificador aberto Europeu, as equipas que se tinham inscrito no qualificador ainda não sabiam o seu oponente a 15 minutos do suposto início, deparando-se com uma bracket inexistente e com vários problemas na sua criação. Com bastantes erros de "502 Bad Gateaway", os interessados em consultar a bracket e as equipas participantes finalmente conseguiam ver, ainda que com bastante dificuldades a nível de loading, a bracket que iria apurar 8 equipas para o qualificador fechado. Apesar de a bracket já ter sido criada, a maioria dos jogos não arrancou e o qualificador ia-se jogando às pingas, com jogos da primeira ronda ainda por iniciar 2 horas depois do agendado.


Os HAVU de KHRN certamente não ficaram satisfeitos com o seeding do único qualificador de acesso ao Minor Europeu.

Logo nos primeiros instantes ficou-se a perceber os perigos deste qualificador, que deu pouca importância ao seeding naquela que era para centenas de equipas a única oportunidade de começar a escalar a escada de acesso ao Major. Equipas como os DIVIZON que possuem currículo na Alemanha nunca podiam ter ficado com a última seed do qualificador, tendo jogado na primeira ronda e arrumado para o lado frente aos Kinguin. Este tipo de casos é impensável! Uma equipa cujo nível seria certamente superior a mais de metade das que se alistaram a ver a sua única hipótese de tentar fazer algo neste qualificador dissipar-se logo na primeira ronda do mesmo.

Destino semelhante tiveram os HAVU (#31 do Ranking Mundial da HLTV) que ficaram com a seed #125 e estavam na terceira ronda deste qualificador a defrontar os Team Dignitas com quem se tinham cruzado recentemente num BO3 e vencido a contar para as meias finais do qualificador fechado Europeu para a SL i-League Shanghai. Num BO1 em de_train, ditou o jogo a vitória dos Team Dignitas por 16:08, deixando pelo caminho os HAVU que poderiam muito bem ter garantido o apuramento para o qualificador fechado num formato de 4 qualificadores abertos, tendo ficado arredados da sua única oportunidade de lutar pela presença no Major.


Os Team dignitas estiveram 15 horas seguidas a jogar este qualificador, algo absolutamente impensável a este nível.

Os Delays e problemas técnicos presentes no primeiro dia rapidamente fizeram a CEVO repensar os seus planos e adiar para o dia seguinte a segunda e terceira ronda do qualificador que deveriam ter sido jogadas na sexta feira. Estas mudanças não foram no entanto gratuitas e tiveram o seu custo, com o segundo e último dia do qualificador aberto Europeu a iniciar muito mais cedo do que aquilo que era planeado, tendo os jogos começado pelas 12 horas da manhã.

Sem qualquer tipo de background check por parte dos admins da CEVO aos participantes ou um client que estivesse ao nível daquilo que é pedido para uma prova desta importância, não demorou muito para que o segundo dia da competição ficasse arruinado pelo festival de cheaters que infectou e desvirtuou por completo a bracket deste qualificador. A falta de prontidão para atacar estes casos levou a que jogos fossem efectuados em vão – os dignitas chegaram a jogar um BO3 até à última ronda do terceiro mapa para ver o mesmo cancelado por cheating dos seus oponentes, ficando a aguardar por um oponente para disputar de novo o BO3 que tinham acabado de jogar – com muito desespero por parte dos diversos jogadores presentes neste qualificador. Tivemos pelo menos 3 casos em que o uso de cheats esteve presente, um deles já na Ronda de 16 que era precisamente a ronda que antecede o qualificador fechado e que apuraria o vencedor do jogo para o mesmo.

A saber: kerZe vs KPI (Os Team Optimistic estavam a vencer por 14:12 em cache na ronda de 32, tendo já eliminado equipas como os PRiDE que viriam a garantir o apuramento para o qualificador fechado de hoje após vencer 2x BO3), Ciocardau vs Team dignitas (Os Invictus Aquilas estavam a vencer por 15:08 em mirage na ronda de 32, terceiro mapa do BO3, obrigando os dignitas a jogar novamente todo o BO3 contra o vencedor do jogo entre as 2 equipas previamente eliminadas pelos Romenos) e sodaH- vs LPSP! (Os PlanetemOG estavam a perder 13:15 em inferno na ronda de 16, tendo no entanto feito toda a bracket retroceder até à ronda de 256 e obrigado aquela seção em específico a ser toda jogada de novo para encontrar o jogo da ronda de 16 que já não foi jogado ontem entre Binary Dragons e LPSP!).


A equipa dos Binary Dragons que pensou ter sido eliminada na RO128 pode amanhã apurar-se para o Qualificador Fechado.

Mais casos de cheating podem ter acontecido ao longo deste qualificador sem terem sido reportados, o que é verdadeiramente preocupante – a fragilidade de alguns anticheats chega mesmo a ser assustadora e não podem haver situações como aquela que verificamos durante o dia de ontem num dos mais importantes qualificadores jogados ao longo do ano.

O que aconteceu no dia de ontem serve apenas para retirar crédito e fazer recuar a scene atual de CS:GO, com as equipas a não ter condições para continuar e ter objectivos quando são forçadas a jogar durante dois terços do dia sem grandes interrupções, fazendo o seu rendimento baixar e impossibilitando as mesmas de se apresentar no seu melhor nível. Para a história fica um jogo da Ronda de 16 à melhor de 3 mapas que se iniciou a 15 minutos da meia noite (hora nacional, porque nos países Nórdicos já eram 2 da Manhã do dia de hoje) e que apenas decidia uma das 8 equipas que irá jogar durante este Domingo o acesso ao Minor Europeu, uma das provas mais importantes e o primeiro de dois qualificadores offline para o próximo Major de CS:GO que se vai realizar em Boston.

A desilução era visível nos jogadores dos dignitas que viram o seu maior objectivo desaparecer num mar de cansaço.

Mesmo face a problemas técnicos, o organizador do evento deverá sempre procurar a melhor solução possível para as equipas envolvidas nem que tenha de dar a outra face, obrigar equipas fatigadas a jogar um BO3 a horas indecentes é de um amadorismo tremendo e procura simplesmente que os resultados que pretendem obter (neste caso iniciar o qualificador fechado à hora planeada) se concretizem, prejudicando bastante as equipas. Esta foi mais uma de muitas incoerências presentes neste qualificador, tal como um jogo da Ronda de 16 jogar-se apenas amanhã quando hoje um jogo dessa ronda iniciou-se já depois das 2 da manhã em alguns países, devendo o mesmo ter sido jogado em simultâneo com o jogo adiado.

Para continuar a acompanhar o crescimento do jogo, é necessário que a Valve fique mais envolvida no processo de calendarização dos eventos e que haja o interesse por parte da mesma em acompanhar de perto todos os processos de qualificação, o caminho desde o jogo no quarto na primeira ronda do qualificador online até ao último mapa do qualificador principal em LAN, só assim poderemos ter algo com a qualidade que o estado do jogo atual exige.


Um maior envolvimento por parte da Valve é necessário para aumentar a qualidade dos processos de qualificação.

Delegar a realização dos mesmos qualificadores a diferentes organizadores sem mostrar interesse até bem perto da fase final não é o caminho, e a realização de um único qualificador mostra o porquê destas coisas necessitarem de ser feitas com o devido tempo que merecem e não em cima do joelho como se de um evento amador se tratasse. Nós só temos dois Majors patrocinados pela Valve por ano para um jogo que é uma das maiores fontes de lucro para essa empresa se não for a maior (nas micro transações, nas compras de chaves e de skins do mercado da comunidade) portanto o que se pede é que a mesma assuma a organização deste tipo de eventos, sejam eles online ou offline, ou que trabalhe de forma mais direta com organizadores competentes. Depois desta série de qualificadores, tenho as minhas dúvidas que alguma vez a CEVO seja vista novamente a organizar provas desta envergadura, mas para diversas equipas os estragos já foram feitos.

Em suma, um calendário anual de eventos lançado no início de cada ano por parte da Valve para o Counter-Strike: Global Offensive, um maior envolvimento da empresa em todos os processos que conduzem a um Major e optar sempre por trabalhar com os melhores na área (FACEIT/ESEA) será o caminho para que estes qualificadores conduzam a muitos menos problemas para as equipas. A realização de pelo menos quatro qualificadores abertos para o qualificador fechado que conduz ao Minor Europeu também é uma necessidade e deveria ser já a regra, de tão bons resultados que originou no passado. Já se sabe o quão instável é um qualificador online a nível de resultados, uma equipa que jogue nos quatro qualificadores e não se apure para a fase seguinte sabe que não estava destinada a estar presente, agora perder num único por qualquer que seja a razão de muitas válidas deixa sempre um sabor amargo na boca.