Ainda na rescaldo do que foi o evento do Moche XL Esports e já depois de terminado o evento e iniciado as desmontagens do palco, a equipa do Fraglíder foi ao encontro do Carlos "KKM" Martins, administrador principal do torneio e uma das pessoas que tornou possível a realização do evento.

Na nossa entrevista final realizada no Moche XL Esports, abordamos junto de um dos elementos mais importantes da organização sobre balanços que faz do evento, o que significam estes números para Portugal e para os torneios portugueses, sobre a possibilidade de atrair organizadores internacionais para solo nacional entre outros temas como a segunda edição do Moche XL Esports e aspectos gerais do evento.


A equipa do Moche XL Esports no final de um evento histórico concluído com sucesso.

Fraglíder: Foste um dos grandes obreiros para que este evento internacional em Portugal fosse possível juntamente com o Barbini, superando as tuas expectativas. Agora, olhando para trás, para estes dois dias que foram o resultados de meses de trabalho, qual é a primeira impressão sobre o resultado final e a organização do evento?

KKM: A nível de organização sinceramente não superou (as minhas expectativas) porque houve bastante trabalho, as pessoas que estavam envolvidas focaram-se bastante e deram ao máximo as condições pedidas pela equipa de trabalho. Eu sempre acreditei que em Portugal conseguiríamos fazer um grande evento com uma equipa bem formada, bem estruturada, com as pessoas corretas – e quando digo corretas não quero dizer que não existem pessoas de fora que se podiam juntar a uma futura equipa por serem profissionais – e tenho plena consciência que a equipa com quem trabalhei merece ser profissional.

Existe muita gente com talento, com sabedoria e com vontade de fazer eventos destes e eu sempre disse que isto poderia acontecer em Portugal se nos dessem as condições por isso a organização e as entidades envolvidas portaram-se todas bem. Fizemos o nosso trabalho, o público superou claramente as expectativas de toda a gente, estamos habituados a ter Lisboa Games Week com 1000, 1500 pessoas em frente ao palco paradas, sentadas – algumas vezes até no chão e posso dizer que só tínhamos a expectativa de abrir a bancada inferior que dá para 2200 pessoas. Já no sábado tivemos que abrir a bancada superior e como português, aquele público quando cantou o hino ou quando berrou pelos jogadores portugueses que estiveram no palco, encheu o coração a qualquer pessoa, é daquelas coisas que secalhar não vemos tão cedo infelizmente em Portugal mas acredito que vamos ver novamente.

Fraglíder: Estavas a falar do público, uma das maiores questões que existia na comunidade e que foi sempre um dos medos dos organizadores foi saber se dessem o próximo passo e conseguissem fazer um evento de maior escala, se a adesão do público não iria defraudar as expectativas criadas em torno de um evento dessa magnitude. Como já foi dito, correu muito bem. Acreditas que isso pode ser um presságio para que organizadores internacionais vejam o valor que há no nosso país para a realização dos seus eventos cá nos próximos tempos?

KKM: Eu não sei se é uma possibilidade ou não mas quem assistiu a isto, quem viu o evento, principalmente quem esteve cá porque lá em casa não sei como foram passadas as emoções, não tenho tempo para ver isso durante o evento para além de algumas imagens espetaculares. A partir de agora, quem viu isto e quiser fazer um evento internacional em Portugal bem feito com grandes equipas, não pode temer porque isto demonstra que Portugal tem público e que estavam prontos para isto, era apenas preciso acontecer. Agora que aconteceu um evento como este, só temos que sonhar em fazer uma segunda edição ou aparecer algo ainda maior e acreditamos que somos capazes de fazer mais, o público correspondeu e isso foi fenomenal.


"Em vez de termos só uma equipa portuguesa conseguirmos ter mais uma equipa nacional presente."

Fraglíder: Em entrevista à RTP Arena e também no final do evento foi confirmado que teremos uma segunda edição do Moche XL Esports a ser realizada em 2019. Quais são as expectativas que tens para esse evento e se pudesses alterar algo em relação a este, o que achavas importante que fosse feito de forma diferente?

KKM: Primeiro, fico muito contente com a confirmação que foi dada relativamente à segunda edição. É sinal que a Moche e outras marcas envolvidas estão mais uma vez a apostar e acreditar que isto pode avançar logo estão de parabéns. Sobre o que poderia mudar, provavelmente trazer um número maior de equipas, em vez de termos só uma equipa portuguesa conseguirmos ter mais uma equipa nacional presente, continuar a apostar nos nossos mas claro que temos de perceber que isto é um evento internacional e que temos de conjugar as coisas, fazer as mesmas de forma decente. Portanto, gostaria de aumentar o número de equipas e se possível termos uma fase de grupos seguidos dos playoffs abertos ao público, algo desse género. Conseguir fazer algo idêntico ao que se faz lá fora e concretizar um evento ainda maior.

Fraglíder: Falamos então também de expandir o evento a nível de duração para três, talvez quatro dias?

KKM: Neste caso, sim. Três, quatro dias para fazer algo maior do que isto, nós não conseguimos esticar o dia – não podemos ficar aqui das 10:00 às 2:00. Temos de aumentar o número de dias para trazer mais equipas e acho que poderemos fazer as coisas mais uma vez corretamente e trazer ainda mais equipas estrangeiras, dando uma força à scene portuguesa porque vimos que os nossos jogadores em cima de um palco podem fazer coisas muito bonitas.



"Não podemos sonhar em ter uma MLP com uma produção destas (…) mas não fico contente em estar estagnado."

Fraglíder: Apesar de ser um evento internacional, o Moche XL Esports aumentou e de que maneira a fasquia por ser um evento realizado em solo nacional. Sabendo que há mais para além do Moche XL e que nós temos outras competições portuguesas durante todo o ano, achas que os organizadores também terão de alguma forma adaptar os seus eventos e dar um step up baseado no que foi feito aqui, aumentando a qualidade dos seus eventos que por vezes é criticada?

KKM: É difícil. O nível que temos em Portugal é um já bastante alto a nível de organização, falo por mim e pela minha equipa com as condições que temos. Não me queixo das condições, compreendo que somos 10-11 milhões e sabemos que as marcas começam a apostar mas temos de compreender que um evento como o Moche XL Esports é um evento em que os objectivos do torneio de CS:GO eram outros, não era queremos fazer algo para a Península Ibérica, para Portugal, fazer uma coisa bonita. Não. Tinhamos intenções de mostrar que havia capacidade em Portugal de nos lançarmos lá para fora e mostrarmos que essas condições estavam cá e que existem.

É difícil agora uma Master League Portugal chegar-se próxima de um Moche XL Esports a nível de produção, de câmeras, de palco, é um investimento muito grande. Posso dizer que nós procuramos sempre evoluir, não fico contente em estar estagnado, não fico contente em ter mais do mesmo. A verdade é que às vezes temos de replicar aquilo que fazemos, não conseguimos melhorar, as pessoas têm de perceber que nós também temos um orçamento e ele é limitado, não nos podemos esticar. Não podemos dizer: Okay, fizemos o Moche XL Esports e agora todos os palcos vão ser deste nível. Temos de perceber que existem determinados eventos, temos de perceber que o Moche XL Esports é coisa rara em Portugal, é uma coisa que espero que em 2019 como já confirmaram exista, espero que ainda possam haver outros eventos dessa magnitude mas temos de trabalhar com aquilo que temos.

É o que eu digo, não podemos sonhar em ter uma MLP com uma produção destas, um palco deste tamanho mas claro que não fico contente em estar estagnado, acho que estamos a dar os passos certos e estou confiante naquilo que o futuro nos reserva.


"É um marco nos Esports nacionais (…) nenhum evento chegou próximo do Moche XL Esports."

Fraglíder: Um dos objectivos que vocês tinham a nível de viewership foi claramente superado. Só na stream portuguesa, vocês tiveram mais de 56.000 pessoas em simultâneo a assitir. Enquanto organizador, o que significa isso para ti e quais são os teus objectivos futuros? Quando olharmos para o Moche XL Esports daqui a 6 meses, o que fica?

KKM: Os nossos objectivos a curto prazo é anunciar uma novidade na Master League Portugal, uma competição que irá existir. Peço desde já desculpa porque a mesma vai ser anunciada em cima dos qualificadores abertos mas nós também temos de perceber que o foco estava todo no XL. Anunciar algo sem lhe darmos a devida atenção ou estar nesse momento sem disponibilidade para a preparar e administrar… temos de conciliar as coisas. A longo prazo, queremos ter uma segunda temporada da MLP, recolher o máximo de informação deste evento e perceber como é que as marcas olham para isto, qual é o sumo que tiram, o que gostaram, se gostaram, se estão interessados em fazer mais e melhor, se estão interessados em estar só no XL em 2019 ou se querem realizar antes disso outras actividades; não deste tamanho mas outro tipo de actividades que também sejam bonitas e que possamos trazer competitividade a todas as scenes de Esports.

Daqui a 6 meses, quando olhar para este evento vou olhar como o faço hoje e vou ter saudades dele. O que se passou aqui hoje foi bonito, arrepia as pessoas, foi algo que pouca gente acreditava e que ficará na memória de toda a gente que passou aqui, nas milhares de pessoas que cá estiveram, nos milhares de miúdos que puderam presenciar equipas deste nível. É muito importante darmos esta esperança aos nossos jogadores portugueses de pisar estes palcos. Daqui a 6 meses, as memórias vão ser muito boas, e daqui a 1 ano, e daqui a 2 porque aqui fez-se história nos Esports em Portugal. Podemos dizer que é um marco nos Esports nacionais, não há sombra de dúvida, nenhum evento chegou próximo do Moche XL Esports neste momento, espero eu que isso um dia mude.


"Alguns destes jogadores (…) agora acreditam que o público realmente está do lado deles."

Fraglíder: Algumas últimas palavras que queiras deixar a quem seguiu o evento, à tua equipa e aos patrocinadores do evento?

KKM: Em primeiro, quero dar os parabéns à nossa equipa, à equipa que trabalhou neste evento. Se nos derem condições, nós vamos lá, nós conseguimos. Podemos errar e errámos, somos como toda a gente no mundo mas nós fizemos algo que me orgulha, que orgulha toda a gente que estava naquela régie, todos os seguranças, todos os staffs, que orgulha as marcas e a primeira palavra de apreço é para eles que trabalharam muito, passaram muitas horas sem dormir. A cara de felicidade deles, depois de terminar, depois de tirar a foto final, é bonito de se ver e o staff está completamente de parabéns.

E depois, está claro, agradecer às marcas porque sem elas isto não era possível. Finalmente, por algumas delas entrarem, outras porque aumentaram o seu investimento e disseram: nós estamos presentes, nós acreditamos, nós vamos com tudo e queremos ver daquilo que vocês são capazes. Sem elas nós não podemos fazer nada, a confiança delas foi inabalável neste evento, merecendo uma grande palavra de apreço. Não há como não agradecer mais uma vez ao público, foi incansável e quando enchem o coração da malta do staff, dos jogadores – havia jogadores com quem eu falei, nacionais e internacionais que nunca pensaram que iriam chegar a Portugal e ver uma sala destas, o apoio, o barulho, o carinho, a tentativa de ter um autógrafo, tanta e tanta gente… os jogadores portugueses então saiem daqui com uma alma… os Giants que agora vão jogar a Espanha tem de o fazer com o coração cheio e a eles desejo as felicidades e boa sorte nestes torneios que vão ter.

Acredito que alguns destes jogadores que já aqui andam há tanto tempo em Portugal agora acreditam que o público realmente está do lado deles e que quando eles forem jogar lá fora, vão sentir e vão recordar-se destas imagens.

Fraglíder: Muito Obrigado pelo tempo dispendido Carlos, parabéns a ti e à tua equipa pelo trabalho realizado e que possamos em 2019 ter algo igual ou melhor do que aquilo que foi feito este ano.