Ainda na ressaca da 2ª edição do Moche XL Esports, lançamos agora a nossa última entrevista realizada no Altice Arena já depois dos Windigo se terem sagrado campeões diante dos GamerLegion. Estivemos à conversa com o Carlos "KKM" Martins da E2Tech, empresa organizadora do evento e abordamos diversos temas nesta entrevista, entre os quais a presença das equipas portuguesas no evento e se é possível esse número aumentar, as finais offline da MLP jogadas no recinto, os convites internacionais endereçados por parte da organização, a ausência de um qualificador para esta edição e que avaliação faz do Moche XL Esports 2019.

 


"Demonstramos que estamos aqui para fazer aquilo que de melhor há em Portugal"

Fraglíder: Mais uma edição da Master League Portugal concluída, mais uma edição da Moche XL Esports concluída. Desta vez, foi possível realizar as meias finais da MLP no próprio local enquanto se montava o palco, mas as mesmas não foram isentas de problemas. Já estavam prevenidos para esta possibilidade? De que forma foram solucionados os problemas, visto alguns deles poderem ter interferência direta num resultado final por obrigarem a repetições de rondas?

KKM: Quero desde já agradecer pela entrevista. Sim, foi mais um ano de XL e mais uma edição da Master League Portugal com sucesso em ambos. Desta vez tentamos algo que não conseguimos fazer na 1ª edição da MLP, na 2ª é nos possível porque é um evento completamente diferente (Lisboa Games Week). O XL é um evento de cariz especial, digamos assim, e não é fácil tentar fazer aquilo que nos propusemos a fazer e passo a explicar para aqueles que falam e não percebem o que se está a passar na arena. Quando se monta um evento como o Moche XL, é sempre muito complicado porque está muita coisa a acontecer ao mesmo tempo. Existem stands a serem montados pelas marcas, existe palco a ser montado, existem salas de treino a serem ocupadas pelas equipas internacionais, existem sessões de press a serem realizadas pelos media, photoshooting por parte do evento, outras entrevistas por parte da RTP e coordenar isto tudo não é fácil.

Nós tentamos e arriscamos dar aos jogadores algo que nos pedem bastante que é jogar em LAN e desde a primeira hora que explicamos aos mesmos que seria numa sala fechada os seus jogos. Temos um palco gigantesco que não existe em Portugal a ser montado, é necessário preparar a stream e as pessoas necessitam de perceber que nós fizemos duas streams diferentes. Não sou operador de transmissão e provavelmente o Scrapy saberá explicar melhor mas tivemos de fazer uma stream completamente diferente na sexta e no sábado tivemos de nos ligar a tudo aquilo que pertence à RTP. Passamos a noite de sexta para sábado em direta no evento por causa da stream e das suas ligações que tiveram de ser totalmente diferentes e novas.

Algumas pessoas devem achar que as coisas estão sempre prontas e que são feitas com toda a facilidade – sexta feira proporcionamos aos GTZ Bulls jogar no próprio palco quando o mesmo estava em montagens, não sabem a dificuldade que nós tivemos para que isso fosse possível. Tivemos de apressar muita coisa para que os GTZ não dessem default na sua partida da ESL CS:GO Masters, é tanta coisa a ocorrer ao mesmo tempo e nós conseguimos que eles acontecessem, com um ou outro problema, é verdade. É algo que admitimos e nunca nos escondemos mas respondemos de forma afirmativa, demonstramos que estamos aqui para fazer aquilo que de melhor há em Portugal e voltou a acontecer uma edição da Master League Portugal com um novo campeão nacional e um XL de sucesso onde os Windigo triunfam.

 


"Apenas 2 equipas não foram contactadas tendo em vista a participação no Moche XL Esports dentro do top 20 mundial"

Fraglíder: Olhando para as diferenças da XL em relação á edição anterior, uma delas vem de decisão vossa onde optaram por aumentar o prizepool. Qual foi o principal intuito por detrás deste aumento? Talvez não tenham conseguido trazer um nome sonante como os MIBR/SK do ano passado que chamasse mais público mas ainda assim contaram com diversas equipas do top 30 mundial. Ficaste satisfeito com os nomes que conseguiram trazer até Portugal ou estavas a espera de mais?

KKM: Como é evidente, toda a gente quer trazer os melhores do mundo para participar no seu torneio, queremos o top 1, top 2, top 3. O prémio são $75,000 e todos sabemos que o mesmo não é compatível com equipas de Tier 1. Os SK Gaming vieram no ano passado numa situação complicada que estavam a viver com a sua organização e após terem falhado a qualificaçáo para as finais da ECS, temos de entender isso. Contudo, mais uma vez acho piada às críticas direcionadas aos nossos convites e pergunto quantas dessas pessoas já lidaram com um equipa tier 1 e quantas acham este prémio suficiente para as mesmas. São $75,000 e mesmo esses ainda são divididos por 6 lugares. As pessoas não sabem mas posso dizer aqui que apenas 2 equipas não foram contactadas tendo em vista a participação no Moche XL Esports dentro do top 20 mundial. Todas as outras foram contactadas por nós, algumas delas mostraram interesse em vir e dentro dessas outras não puderam vir porque, e as pessoas falam mais uma vez sem saber, vão acontecer as finais da ESL Pro League e as equipas foram forçadas a marcar presença em Montpellier, França no Domingo.

Só esse factor já serviu para incompatibilizar o nosso evento para muitas equipas que estavam interessadas em vir e poderíamos ter alguns grandes nomes do cenário mundial cá. Ainda assim, estou contente com aqueles que vieram porque, com $75,000, tenho a certeza que fizemos melhor do que muitas entidades com maior prizepool. É como digo, se o nosso prizepool continuar a crescer, algo que não é fácil, também o evento continuará a crescer mas as críticas que foram feitas são infundadas. Temos uns FURIA, top 5 mundial, a perder para os GamerLegion – temos uns OFFSET que quase deram upset no seu jogo do XL, temos BIG com muito talento, Windigo com duas estrelas jovens… Os próprios Virtus.pro, as pessoas criticam mas nós acreditamos que eles poderiam fazer mais do que aquilo que têm vindo a fazer. Parecendo que não, trazemos uma lenda como o Kuben que agora é treinador, esquecem-se um bocado da história dele, esquecem-se um bocado da história do Snax no jogo. Estou satisfeito, bastante satisfeito mas quase conseguimos grandes nomes – o "quase" não nos garante nada mas fomos à luta, conseguimos os nomes que foram possíveis e estamos sim, satisfeitos. Obrigado ao Mira pela disponibilidade durante os últimos meses para que podessemos contactar o máximo de equipas possíveis.

 


"Os próprios Giants estiveram em cima da mesa para serem convidados"

Fraglíder: No ano passado, tivemos uma maior confirmação a nível de elenco português no pré evento com convites atribuídos aos Tempo Storm do fox, o apuramento dos Movistar Riders do mUt no Ibérico e a presença do vencedor da MLP. A nível de primeiro dia, registamos talvez uma maior adesão no ano passado relativamente ao público que se deslocou agora ao Altice Arena. No ano passado, tinhas referido que é difícil ter a presença de mais do que uma equipa portuguesa, no entanto, a garantia da presença de mais uma era algo de que o evento poderia beneficiar. Achas que existe espaço para a inclusão de mais um participante português?

KKM: Claramente, os próprios Giants estiveram em cima da mesa para serem convidados. Houveram várias conversas nesse sentido a nível interno e não tenho problema em admití-lo. O nosso interesse é que as equipas portuguesas comecem mais a entrar neste tipo de eventos internacionais mas também se torna difícil… são apenas seis equipas, é necessário perceber que existem responsabilidades – o formato não é alterado só porque sim, todos os jogos têm de ser jogados em palco. Não é fácil realizar 3 BO3 por dia, não é fácil mudar este formato quando só temos disponíveis os dias de sábado e domingo. A minha vontade era de ter mais equipas portuguesas a participar, os OFFSET brilharam e náo fecham a sua série por infelicidade ou falta de experiência numa ou outra ronda mas é isso que queremos e gostaríamos de ter, mas como se diz não se pode ter tudo, é o que temos. Vamos sempre tentar que o XL tenha esta representação portuguesa por via da Master League Portugal e, se for possível ter outra equipa, será recebida com muito agrado e acho que o público irá reagir da mesma forma. Desta vez não foi possível, não é algo que possamos prometer mas vamos tentar trabalhar nesse sentido.

Fraglíder: Também na edição anterior tivemos a existência de um qualificador ibérico, algo que este ano optaram por não repetir. Qual a principal razão para que o mesmo não tenha sido realizado?

KKM: Voltamos a falar por causa do qualificador ibérico e até seria um qualificador europeu o que estava pensado para esta edição. Não foi feito porque pretendemos assegurar as melhores equipas possíveis, não queríamos iniciar logo um qualificador sem tentar a presença das melhores equipas ao nosso alcance. A questão do qualificador ibérico ou do qualificador europeu acabou por se arrastar e tornar-se impossível, digamos assim. A Master League Portugal é uma competição portuguesa mas, as outras equipas desde que cumpram as suas regras, podem jogar na mesma. Quando digo isto, falo para as equipas espanholas que podem jogar cá desde que cumpram os requisitos mínimos com 3 elementos a disputar as partidas desde Portugal. Podemos estudar, mais tarde, caso as equipas interessadas cumpram com esses regulamentos, realizar as mesmas alterações que foram feitas em Espanha para a equipa dos Giants.

Considero que o qualficador ibérico não iria acrescentar muito mais, queremos sim e seria o meu interesse ter mais uma equipa portuguesa, acho que temos de ajudar as equipas portuguesas a projetar-se lá para fora. Compreendo se me disserem que Espanha deu a oportunidade aos Giants de disputar a BLAST Pro Series Madrid mas o qualificador não foi ibérico, foi sim um qualificador da LVP, são coisas diferentes. Não tenho problema nenhum com as equipas espanholas e até gostava de organizar um qualificador ibérico mas, com 6 equipas, não podemos limitar-nos ao ponto de atribuir logo 2 vagas á Península Ibérica. É verdade que queremos mais equipas portuguesas e que recebemos com todo o gosto as equipas espanholas mas temos de tentar trazer algo diferente neste evento, é um evento muito especial para a comunidade e queremos trazer jogadores e equipas que eles nunca tenham visto ao vivo. O qualificador ibérico foi, para mim, uma excelente ideia o ano passado mas temos de tentar e continuar a testar coisas novas. Quem sabe na próxima Edição o mesmo não volte, alterações são estudadas todos os anos.

 


"Estou satisfeito, correu muito bem e agora é altura de descansar e começar a pensar no próximo em 2020, tentar corrigir os erros e voltar a inovar e ser pioneiro em Portugal nesta dimensão"

Fraglíder: No segundo e último dia de competição, temos uma casa mais composta a fazer lembrar a edição do ano passado e tiveste a repetição de momentos como o hino por parte do público e a icónica foto das luzes apagadas com os telemóveis. Tiveste GamerLegion a surpreender FURIA, tivemos os Windigo a superar todos os seus oponentes para se sagrarem campeões. Olhando para trás e já numa perspectiva de avaliação, o que correu menos bem e que alteravas? Olhando para o produto geral, sais satisfeito com o que foi por vós produzido?

KKM: Como é normal, existem sempre coisas que tem de ser alteradas mas essas eu guardo para mim e para a minha equipa, guardo para a E2Tech. Só vivendo o evento é que nós podemos evoluir e aprender com os erros quando eles acontecem, por muita preparação que haja existem sempre erros que vão acontecer e coisas que acontecem sem tu estares a contar com elas. A questão principal é que vais estar sempre a aprender, vais ganhar muita mais experiência de um evento para outro. Para mim, este é mais um XL de grande qualidade e estou bastante satisfeito, o público aderiu mas é verdade, houveram momentos em que estiveram muitas mais pessoas do lado do expositor do que o ano passado. Na edição anterior, estiveram muito mais focadas neste lado da arena mas é o público que escolhe aquilo que pretende assistir, o que quer experimentar do lado dos stands. Estou satisfeito, correu muito bem e agora é altura de descansar e começar a pensar no próximo em 2020, tentar corrigir os erros e voltar a inovar e ser pioneiro em Portugal nesta dimensão.

Fraglíder: Palavras finais que queiras deixar á equipa que trabalhou contigo para produzir este evento ou aos fãs que se dirigiram à arena durante este fim de semana?

KKM: Para a equipa, digo o costume. Lidar comigo não é fácil e a verdade é que durante o evento sou uma pessoa que exige muito, que quer tudo muito perfeito e que se vê algo errado, quer alteração imediata. Nesse aspecto, não é fácil lidar comigo mas quero agradecer claramente a eles porque corresponderam mais uma vez, deram step up e mostraram a qualidade que têm. Agradecer também so Scrapy, trabalhamos muito lado a lado para que isto fosse possível. Agradecer à malta que esteve no palco, à malta que esteve na stream, a quem idealizou o evento, etc…

Aos fãs, pedir para continuarem a apoiar o XL, a apoiar a Master League Portugal, a apoiar e a acarinhar as equipas portuguesas pois elas sim têm de ser o foco. Não é necessário andarmos a focar-nos no resto porque o resto é o resto, aquilo que dizem cá para fora… Não vale a pena. Nos Esports, ou nos unimos todos e acabamos de vez de espalhar ódio e entrar em guerrinhas, neste caso, acabar com as guerrinhas ou não vale nada todo este trabalho que estamos a ter. Não vale nada cada minuto que perdemos de sono. O evento foi maravilhoso, agradeço a todos os que trabalharam conosco, agradeço a todos os que estiveram na arena, a todos os que estiveram em casa a seguir e, mais uma vez estamos aqui para o ano. Participem nos qualificadores da Master League Portugal e sejam bem vindos a este mundo dos Esports para quem não o conhecia. Obrigado.

Fraglíder: Obrigado pela entrevista KKM e pela realização de mais uma edição do Moche XL Esports.