Fotografia: Miguel Pinto/Fraglider

Fourteen está de cara lavada para a segunda metade do ano. A equipa fez três mudanças no lineup e estreou-se esta terça-feira na ESL Masters España XII. O FRAGlíder esteve à conversa com Ricardo “fox” Pacheco, que analisou as mudanças na equipa, os objetivos para o que se avizinha e ainda refletiu sobre o momento atual da carreira.

Nota: Entrevista realizada a 17 de setembro de 2022.

FRAGlíder: Que objetivos é que a Fourteen apresenta para a MLP e para a ESL Masters España?

foxNós queríamos ter tido mais treino, mas não pudemos. Quando montámos a equipa, já havia jogadores com férias marcadas. Tanto eu como o RIZZ já tínhamos coisas marcadas e começámos um pouco mais tarde por causa disso, porque eu também não sabia se ia continuar a jogar ou não nos Fourteen. Tive aí um outro projeto internacional, mas que não chegou a ir para a frente. Tivemos as férias a meio de agosto, ou seja, começámos duas, três semanas mais tarde do que o normal. Queríamos ter treinado mais até à data, mas acho que estamos a treinar bem e a progredir dia após dia. Acho que é notável nos jogos que temos feito. Estamos com uma mentalidade de jogar mais em equipa do que na época passada, de jogar uns para os outros e com um IGL de raiz, que muda tudo. Só gostava de ter tido mais tempo para treinar, para estar um bocadinho melhor preparado para os torneios que vão começar.

Os grupos também já foram sorteados. Na MLP, vocês têm um grupo com SAW, VELOX e Byteway. Que te parece?

Isto hoje em dia, para passar à final four, o pessoal tem que entrar nos jogos como se fossem finais. Já no ano passado, o nosso grupo éramos nós e a SAW. Já não sei quem era a outra equipa, não sei se era VELOX também, mas sei que era assim um grupo complicadíssimo. Vai ser complicado passar o grupo, mas, como todas as equipas presentes, vamos jogar para ganhar o grupo e passar em primeiro, independentemente de sabermos que é difícil. Temos ali duas equipas que são jogos taco a taco, na minha perspetiva, e os UnDeRdOgS que também não podemos menosprezar.

Na ESL Masters, voltam a estar com SAW e têm ainda Gravity 0 e Case. O que é que estas duas novidades podem trazer ao grupo?

Acho que esse grupo ainda é mais complicado do que o da MLP. Acho que o público não dá muito pelos Case, mas se repararem no trajeto deles já na época passada, no RMR do Brasil ganharam a todas as equipas brasileiras menos aos FURIA, se não estou em erro. Acho que ainda levaram um upgrade ao meter o leo_drk, na minha perspetiva. Esperamos uma equipa mais forte do que na época passada, talvez. Os SAW são sempre os SAW, são uma equipa complicada de ganhar e são favoritos, na minha opinião e acho que na opinião de toda a gente. A mentalidade tem que ser a mesma da MLP: jogar cada jogo como se fosse uma final e jogar para ganhar e passar em primeiro no grupo. Nunca menos que isso.

Na MLP vais para a oitava participação em dez possíveis. Até quando é que podemos esperar continuar a ver o fox?

Eu respondo sempre isto ao pessoal que me pergunta se vou deixar de jogar ou não: neste momento não tem que ver com o facto de achar que tenho muita ou pouca skill, porque acho que em termos de jogador, sou igual. Simplesmente tem que ver com o cansaço mental, que acho que é uma coisa que já começo a sentir mais por causa da idade. Antigamente um dia de treino de oito horas não me custava rigorosamente nada. Fazia oito, dez, 12, as que fossem precisas. Se calhar hoje já sinto isso mais no corpo, já massacra mais. Mas, respondendo à pergunta, respondo que vou continuar a jogar enquanto me sentir confortável. Enquanto sentir que sou útil para a equipa, eu vou jogar. Quando sentir que não sou útil para nada, aí se calhar já pondero deixar de jogar e tornar-me treinador ou qualquer coisa, não sei. Enquanto me sentir confortável, continuarei a jogar tranquilo.

Fourteen considerou várias opções para o lineup.

“O projeto, logo de início, estava mal”

A Fourteen fez várias alterações. Em que momento é que vocês perceberam que o projeto não estava a funcionar?

Sendo sincero, e agora que já tudo foi mudado acho que posso falar sem rodeios, o projeto passado foi um pouco um tiro no escuro. Eu já tinha apalavrado com os jogadores todos, com o renatoohaxx e com o obj. O NOPEEj e o pr já estavam comigo. Já tinha apalavrado com eles os dois, mas entretanto nós queríamos falar, na altura, com o DDias e com o ewjerkz. O DDias é IGL e interessava-nos e o ewjerkz pelo jogador que é, que acho que é conhecido de toda a gente. Não sabia se eles aceitariam na altura, porque estavam no projeto da FTW e estavam a jogar bem. Não quis falar com eles por uma simples razão: já tinha dado a palavra ao obj e ao renatoohaxx e eu não gosto muito de voltar com a minha palavra atrás e disse ‘vamos arriscar’, porque não queria fazer isso a ninguém.

O projeto, logo de início, estava mal pelo simples facto de não termos um IGL de raiz. Só por aí já dava para ver que podia dar muito mal, que foi o que, nos meus olhos, aconteceu. A partir daí surgiu a nossa decisão de meter agora o BLOODZ, que é IGL de raiz, e jogadores feitos para cada posição que precisávamos. Acho que é notável, nos poucos jogos e treinos que temos ainda, uma evolução muito grande por comparação com a equipa da época passada. Quem vir os nossos jogos nota que somos mais equipa, que estamos a jogar mais em equipa, que é tudo mais natural.

Da equipa anterior acabaste por ficar apenas tu e também o pr. Que papel é que vocês tiveram em escolher estes três jogadores?

Sou sincero e, falando abertamente mais uma vez, na altura em que falámos entre todos, não íamos meter o BLOODZ. Ele ia ser nosso treinador. Íamos meter o shr no lugar dele, que é um jogador que gosto imenso e que acho que tem muita margem de progressão. Acho que é mesmo um jogador bom, independentemente do que as pessoas falam. Pode vir a ser um dos melhores em Portugal, sem qualquer tipo de dúvida. Acho que ele tem mesmo nível. Agora, quem joga com ele tem opiniões diferentes ou não, isso já não me interessa. Era para ser ele e acho que ele iria aceitar, pelo que sei, por conhecidos deles que me disseram que ele se calhar aceitaria sem problemas.

Depois, falámos entre equipa, porque inicialmente íamos meter o shellzi a IGL fixo e íamos tentar uma coisa nova para ele, e pensámos no BLOODZ. Ele é bom jogador, a nossa indecisão era só por ele ter estado parado cerca de um ano e meio. Só que ele nunca esteve realmente parado, ele foi jogando quase diariamente e isso facilitou um bocado na decisão. Não esteve totalmente parado, esteve parado do cenário competitivo. Já tinha jogado com ele no passado, sei que é um jogador que entende bem o jogo, é bom IGL, dos melhores que anda aí. Foi fácil escolher a equipa. Já tínhamos jogado com o RIZZ também, já tinha jogado com ele nos Giants e nos OFFSET e foi opção minha. E o shellzi também, é um miúdo 5*, já joguei com ele no passado e faz tudo pela equipa. Quisemos, ao invés de nos mentalizarmos só na bala, escolher um lineup em que cada um cobrisse a sua posição, que é o que está a acontecer.

“É perfeitamente acessível ganhar uma MLP ou uma ESL”

Vocês apostaram também na equipa técnica e trouxeram o BhT- para ajudar. O que vos oferece de novo?

Sentimos que precisávamos de uma ajuda extra e eu já conheço o BhT há vários anos, é um pouco da velha guarda, assim dizendo. Vejo as análises dele e sei que entende o jogo um pouco como eu também o vejo e a decisão foi 100% ele. Assisto aos jogos e vejo como ele faz de analista e consigo entender que ele percebe do jogo mais ou menos na mesma direção que eu. Falei com ele, ele colocou-se à disposição e pronto. Nós sentimos que precisávamos de um apoio extra para além do treinador, de um analista para ver as equipas com quem vamos jogar e nos ajudar. Ainda bem que ele aceitou, porque nestes primeiros tempos, o que ele tem feito tem sido notável. E o ner0 também.

Onde vês que a Fourteen se pode posicionar no cenário nacional, tendo em conta as mudanças que houveram?

Nós vamos jogar sempre para ganhar. Nunca me podem fazer uma pergunta a contar que responda que espero ficar no top 3 ou top 4, que isso nunca vai sair da minha boca. Vamos jogar para ganhar e sabemos que é possível. Se eu sentisse que é impossível, deixava de jogar. Uma das decisões para o meu futuro é que, quando sentir que estou numa equipa que é impossível lutar pelos títulos, deixo de jogar porque acho que não vale a pena. Enquanto sentir isso, vamos continuar na luta e eu acho que é perfeitamente acessível ganhar uma MLP ou uma ESL, o que seja.

Na estreia na ESL Masters España XII, a Fourteen acabou derrotada. Contudo, a equipa portuguesa ainda tem hipóteses de seguir em frente.