Quem nunca ouviu falar de sponsors? É o sonho de qualquer adepto de online gaming haver alguém que lhe pague as contas e lhe sustente financeiramente o jogo. Na realidade, as coisas não funcionam bem assim.

De momento, há uma muito maior procura do que oferta. E provavelmente será sempre assim. As atenções do mundo não estão viradas para o online gaming. Trata-se de um mercado controlado maioritariamente por uma faixa etária muito baixa e que não tem poder de compra próprio. Está dependente de terceiros, neste caso, dos pais. E, convenhamos, poucos são os pais que estão atentos ao fenómeno.

Um jogador tem então vários desafios pela frente: – manter uma máquina actualizada e em condições de lhe permitir uma jogabilidade competitiva.
– manter uma ligação à net rápida e fiável, ainda a preços bastante caros para o bolso português.
– actualizar periféricos e componentes que lhe permitam tirar vantagens competitivas. – treinar, jogando, o que é quase sempre incompatível com uma vida social, escolar ou profissional activa.
– contar com o apoio e compreensão dos pais para que, além de lhe permitirem (porque muitas vezes a questão chega a este ponto) jogar, o incentivem e colaborem monetáriamente para aquisição de hardware (ou software).

O patrocinador, vulgo sponsor, pode ser um precioso argumento no que diga respeito a essa relação jogador-familiares. Todos os pais, sem excepção, gostam de ver os filhos ganhar. Jogos, dinheiro, ratos, amigos… a lista continua.

E do outro lado? Bem, do ponto de vista de um potencial patrocinador, o que é que lhe interessa?! Marketing. Interessa-lhe o lucro. Interessa-lhe tirar partido e proveito do seu investimento. Interessa-lhe tornar a sua marca mais conhecida, invejada até. Interessa-lhe a visibilidade positiva, a publicidade mais poderosa delas todas, aquela que passa de boca em boca. Diz-se que um cliente satisfeito trará 4 novos clientes e que um cliente insatisfeito fará perder 7. Certos ISPs nacionais poderão eventualmente confirmar ou desmentir esta frase. Enfim, interessa-lhe estar presente nas vitórias, ao lado do vencedor, com um sorriso para a fotografia como quem diz “Eu estive do lado do vencedor nesta caminhada! Sou, também eu, responsável pelo seu sucesso. Querem sucesso? Juntem-se a nós!”. Interessa-lhe que os que não venceram se identifiquem com os que venceram e que lhes tentem seguir os passos. A mesma roupa, a mesma marca de tapete de rato, os mesmos headphones, a mesma bebida, a mesma refeição, o mesmo local de treino…

Não é assim tão difícil isso acontecer, diga-se. Tenho visto muito boa gente que é, pura e simplesmente, fã de um clan ou de um determinado jogador. Procuram adquirir os mesmos produtos, procuram ser como eles, estudam-nos e tentam, de certa forma, seguir-lhes os passos. Para o sucesso, é certo, mas passando pelos acessórios enquanto não se atinge o topo!

Quais seriam então os potenciais patrocinadores, de eventos, de clans, de jogadores?

– Marcas de hardware. À partida, serão os mais óbvios. São, geralmente, empresas multinacionais e um punhado delas controla o verdadeiro mercado. São estes quem mais lucra com a indústria dos jogos e com os eSports, talvez porque são também os responsáveis pelas condições de jogabilidade. Estão para os eSports como a ADIDAS, a NIKE ou outras marcas estariam para o desporto. É verdade que há muitos aspirantes a jogadores de futebol que compram as chuteiras que os seus ídolos utilizam, mas no fundo, não acredito que seja aí que as marcas desportivas realmente lucrem. Lucram é com a visibilidade. Estar lá. Quase todos sabem qual é a marca do equipamento da selecção nacional, do FC.Porto, do SL Benfica ou do Sporting CP… Parece-me, no entanto, que as marcas de hardware ainda não investiram muito neste aspecto. Pode ser bom, porque no fundo parecem mais interessadas em competir através da qualidade dos seus produtos do que através da visibilidade. E o mercado de hardware não é ainda estável o suficiente para que entre em jogo com a devida importância o nome da marca. Ou seja, estão sempre a surgir placas gráficas que deixam as velhas obsoletas. Ou se tem ou se não tem. Ou se procura comprar a melhor ou então realmente não há discussão e a escolha acaba por ser condicionada por uma mistura de preço-performance.

– Marcas de software. Software houses, empresas que produzam jogos, porque não? Dificilmente seriam úteis em termos lineares, na medida em que o patrocínipo poderia passar pela oferta de jogos e não faria grande sentido patrocinar um clan de um jogo porque os membros deste já o teriam. Poderia, no entanto, ser aproveitada a deixa. Imaginemos que a Valve patrocinava um clan de CS 1.6. Seria assim tão descabido se a Valve oferecesse a esse clan tudo o que eles precisariam para jogarem o CS:S, procurando assim aumentar a receptividade dos jogadores e começar, desde logo, a cimentar clans num jogo recente?

– LAN houses. Serão talvez o sponsor mais comum, pelo menos em Portugal. O que ganham com isso? Rentabilização do espaço. Um clan pode lá jogar de borla sem que isso seja necessariamente um prejuízo e os jogadores que esse clan levará lá, tanto para bootcamps como meros mirones, são lucro em potência. A organização de pequenos eventos por parte de um clan patrocinado é também fonte de receita e aqui ambos poderão lucrar directamente. O reverso da medalha é que uma LAN house é… bem, o próprio nome indica-o – LOCAL area network. É local. Está limitada pela sua localização geográfica. Por muito apelativa que uma LAN House de lisboa possa parecer a um jogador do Porto ou de Beja, dificilmente este porá lá os pés.

– Lojas de Informática. Também existe. Julgo é que não é muito explorado pelas cadeias de lojas informáticas que poderiam, de facto, fazer a diferença. Lojas informáticas a nível nacional poderiam beneficiar da visibilidade fornecida por um bom clan, em cuja página poderiam estar avisos de preços da dita loja. No entanto, caso a Loja Informática seja uma pequena loja local, tem as mesmas limitações que uma LAN house. Ou mais. É que além de só irem lá os que moram por lá perto, esses só irão se o factor preço de facto compensar. E, regra geral, a comunidade de online gaming está bastante bem informada acerca de preços e de bons negócios de Hardware. De novo, a publicidade de boca em boca. Quem encontra um bom negócio passa-o aos seguintes.

– Existem muitos outros potenciais sponsors que poderiam ser aproveitados se se abrissem a este novo mercado e se procurassem aproveitar um grande nicho explorado por muito poucos e, regra geral, sem grande poderio. Empresas desligadas da informática mas bastante ligadas à faixa etária que compõe maioritariamente este universo de jogadores. Empresas de cereais, fast food, soft drinks, telecomunicações móveis, doces e etc estariam todas em posições privilegiadas para agarrar um pouco desta fatia de mercado e crescer também por aqui. Mas não me parecem, de momento, interessadas ou iluminadas o suficiente para avançarem. Talvez o que custe mesmo seja dar o primeiro passo. Talvez o que custe seja mesmo ser pioneiro, numa área onde é difícil ser-se outra coisa que não ausente ou pioneiro, porque ninguém estará ainda verdadeiramente presente, à excepção das grandes hardware e software houses.

Há que abrir o olho por parte dos sponsors, há que ir com calma, um passo de cada vez, por parte dos jogadores. E entretanto, joguem pelo gozo 🙂

Imo by: Ricardo PuRpl3 Mota