Aos 22 anos detido como uma das grandes promessas do cenário brasileiro, Horvy conta-nos um pouco do que acabou por impossibilitar para que essas expectativas não fossem alcançadas.

Desde a experiência nos K1ck, à confusão dos Immortals e as últimas experiências, o brasileiro explica a sua visão sobre alguns temas não esclarecidos.

 


horvy iniciou o seu percurso em Portugal com os K1CK.

Fraglíder: Depois de várias experiências em equipas do teu país natal, emigras para Portugal e recebes o convite dos K1CK. Como classificarias a experiência com os K1CK a jogar ao lado de jogadores como rmn e MUTiRiS?

horvy: Eu considero a experiência de ter jogado com o rmn e com o MUTiRiS importante, eles são jogadores muito bons. São muito respeitados na Europa, hoje mais ainda pela forma como os sAw estão a jogar aqui na Europa.

Eles foram grandes jogadores no 1.6, são jogadores muito inteligentes e com boa habilidade. Considero a experiência muito boa para mim, respeito muito os dois e acho que no futuro seria uma coisa muito boa jogar com eles novamente, mas algo bem mais para o futuro.

Fraglíder: Posteriormente, és chamado pelo Noah Winston para representar a organização Immortals, formação que vinha de uma final de Major perdida para Gambit. Consideras que toda a polémica em torno da tua transferência para a equipa de HEN1 e companhia afetou não só a tua performance no jogo como também a tua carreira?

horvy: As polémicas em si não me afetaram muito porque sabia que não tinha nada a ver com o que tinha ocorrido naquela época. Respeitava muito todos os jogadores que estavam naquela equipa e fui colocado numa situação que era muito difícil ter sucesso, para não dizer impossível.

Cheguei a uma equipa que já se tinha separado e não foi por causa da minha contratação. Ia ser muito difícil ter sucesso porque a equipa em si já se tinha dividido, alguns jogadores já estavam a sair e os que ficaram já tinham propostas para ir para outros lugares.

Na época, nós também não conseguimos trazer os jogadores que pretendíamos para fechar o lineup a 100%. Contudo, sempre dei o meu melhor mesmo já tendo a minha lesão no braço desde o final de 2016, então isso sim pesou um pouco em mim por jogar lesionado e a instabilidade na equipa. Em duas semanas o lineup acabou, por isso não tive nem tempo para mostrar o meu nível.

 


"Respeito muito os dois e acho que no futuro seria uma coisa muito boa jogar com eles novamente"

Fraglíder: Estiveste muito perto de jogar pelos FaZe na ESL ONE Belo Horizonte, mas acabaste por não conseguir aproveitar essa oportunidade. Existem remorsos por não ter podido jogar? Achas que podia ter guiado a tua carreira para um caminho muito diferente naquela altura?

horvy: Na época da FaZe, a equipa chamou-me para jogar na ESL ONE Belo Horizonte porque estava a jogar muito bem na FPL, jogava muitas vezes com o NiKo e estava a jogar a um bom nível. Fiquei muito feliz por ter sido chamado por ele na altura, mas as coisas acabaram por não dar certo e fiquei obviamente bem chateado. Tantas coisas já tinham corrido mal para mim e faltou sorte para mim em algumas situações.

Acho que poderia ter dado um salto na carreira, mas seria momentaneamente porque eu joguei lesionado todos estes anos na minha carreira e eu nunca consegui ser consistente. Primeiramente, pela lesão em si tinha de jogar à base de remédios para conseguir aguentar essa dor no braço e ombro, então seria uma coisa muito complicada para mim.

Acho que naquele campeonato jogaria muito bem porque não ia precisar de treinar muito, mas a longo prazo o resultado não seria positivo por não conseguir mostrar consistência devido á lesão.

Fraglíder: Podes falar um pouco da tua lesão? Estás a ser tratado nesse sentido e até que ponto afeta ou afetou a tua jogabilidade?

horvy: Quando queria ser chefe de cozinha e estava em estágio acabei por cair, lesionando o meu braço e o meu ombro. O que eu tive foi uma lesão na parte de rotação do ombro, o que é horrível e o meu tendão acabou por inflamar por causa da pancada que dei também com o pulso.

Todos os dias que fazia qualquer tipo de coisa, o meu tendão inflamava. Fiz tudo o que podia segundo o que me era passado pelos médicos e julgo que foi por culpa deles que demorei tanto tempo a recuperar. Sempre fazia os alongamentos, fiz a fisioterapia de três meses e eu acho que a lesão foi mais grave do que os médicos calcularam na altura.

Acabou por me atrapalhar por muito tempo, mas o exercício físico e o ginásio no sentido de reforçar a minha musculatura ajudaram-me bastante. Hoje considero-me sem dor, não tenho mais nenhum tipo de problema e acho que estou 95/98% recuperado para não dizer 100 porque ao longo do tempo ainda vou melhorando algumas coisas de movimento do ombro.

No geral estou e sinto-me bem e acho importante destacar este ponto para os jogadores que acham que o físico não é importante, digo que tem uma diferença muito grande e acaba por ter uma performance muito melhor do que ser uma pessoa sedentária.

 


A ESL ONE Belo Horizonte foi uma das oportunidades perdidas de horvy onde os FaZe ergueram o troféu com cromen. (Foto por HLTV.org)

Fraglíder: Pouco tempo depois da curta aventura nos Immortals és chamado para jogar ao lado de felps, kNgV-, chelo e xand. Quão enriquecedora foi a experiência de partilhar servidor junto de alguns que hoje são referências para muitos jogadores?

horvy: Ter jogado com eles foi muito bom, aprendi muito com o kNgV-, ele é uma pessoa excelente e gosto muito dele. Ele sempre me apoiava no seio da equipa e tenho um grande respeito e carinho por ele por tudo o que ele fez por mim e por ser uma época muito difícil para mim.

Nunca contei para o pessoal a questão das minhas dores, mas ele deu-me grande apoio nesse sentido. Com os restantes jogadores, aprendi bastante com todos eles, principalmente com o Apoka muito bom coach e pessoa, ele é um ídolo para mim. Com toda a certeza, foi uma experiência enriquecedora. Dentro do jogo, aprendi muito com eles e sou muito grato a todos eles mesmo eu não estando perto da minha melhor fase física.

Fraglíder: A aventura à procura de organização não durou muito tempo, acabando por encontrar casa pouco tempo depois. Desde setembro nos INTZ, em janeiro és colocado no banco da equipa. Para ti quais foram os fatores que contribuíram para que essa estadia durasse tão pouco tempo?

horvy: Acho que ajudei a equipa para alcançarmos alguns feitos, como a classificação para ESL Pro League, o Minor das Américas de 2019 em Katowice, PLG Grand Slam em Abu Dhabi e ainda chegamos na final do qualifier da DreamHack Open Winter que acabamos por perder para a Bravado. Eu sabia que estava a ter um desempenho baixo, mas eu sempre fiz o melhor que conseguia e jogava o máximo de tempo possível mesmo que tivesse de tomar um anti-inflamatório por dia.

Sempre dei o meu máximo e acho que os meus colegas de equipa perceberam isso mesmo, mostrando-me sempre aberto a conhecimento. Realmente, eu tinha uma certa limitação física no que podia fazer. Fiquei muito triste com a estadia curta na INTZ por não ter conseguido mostrar o meu melhor e por outras coisas que aconteceram que prefiro não entrar em detalhes, contudo também fiquei feliz por algumas coisas que conquistei.

Fraglíder: Depois de um período temporário na TeamOne, continuas a competir no Brasil através da Team Reapers e passas de torneios internacionais como a ESL Pro League para campeonatos regionais. Ao aceitares o desafio, sentiste que deste um passo atrás para potencialmente dar dois passos à frente?

horvy: Quando eu aceitei o desafio eu achava que seria uma forma de me mostrar novamente como jogador. Acreditava que estava recuperado da lesão e enganei-me porque eu continuava a não ser saudável na questão de alimentação e exercício físico. O meu corpo não correspondia e mentalmente estava a recuperar.

Infelizmente o meu corpo não acompanhou na época, tanto que no primeiro mês de Team Reapers foi muito bom, os colegas de equipa eram muito bons, o brutt para mim era um irmão mais novo que tinha um carinho enorme por ele e pela família. Sinceramente, o primeiro mês foi muito bom, mas com a rotina dos treinos a lesão começou a piorar novamente e tudo isso levou que a minha forma caísse novamente.

Olhava a experiência da Team Reapers como um passo atrás para dar dois passos à frente, contudo, não sei se foi bem isso que aconteceu porque no final acabei no mesmo lugar. Tive alguns bons jogos, mas ao mesmo tempo mostrei alguns problemas.

 


"Fiquei muito triste com a estadia curta na INTZ por não ter conseguido mostrar o meu melhor" (Foto por HLTV.org)

Fraglíder: Já de regresso à Europa, alinhaste por Baecon, Adaptation, ex-Vexed e NLG num curto espaço de tempo. Junto de jogadores alemães e austríacos, fizeste parte de uma equipa internacional na tua última aventura. Como foi a adaptação a uma equipa com jogadores com culturas completamente distintas da tua?

horvy: Foi um pouco difícil, mas na questão dentro do servidor porque a abordagem deles é bem diferente. Tinham bastantes coisas diferentes até comparativamente com a maioria das equipas brasileiras que joguei. Tinham as coisas que eu concordava e tinham outras que eles pensavam que estava a ser muito agressivo.

É um estilo de jogo um pouco mais conservador jogando mais em equipa, não que eles não tenham os seus momentos individuais, mas a abordagem é muito diferente caso das equipas da Alemanha. Nós sabemos isso pelo caso dos BIG porque antigamente eram uma equipa com muita estrutura e isso só atrapalhava eles de vez em quando e acho que isso aconteceu na minha equipa.

Tinha alguma estrutura, mas isso acabou por atrapalhar às vezes – estrutura é bom, mas também é preciso ter outro estilo de jogo. O que tenho para dizer é que a cultura de Counter-Strike é completamente diferente e tive de me adaptar, o que demorou um pouco. Não foi fácil por ter de abdicar de muita coisa do meu próprio jogo para tudo dar certo.

Fraglíder: Neste momento estás nos Cream Real Betis após ter representado os NLG. Com o aumento de jogadores a migrar para o VALORANT, essa troca para o novo FPS da Riot nunca foi opção? O que achas do jogo?

horvy: Nunca pensei em trocar, cheguei a experimentar o jogo mas nunca focar-me nele. Na fase beta eu estive a jogar um pouco com o ScreaM e com o HS, dos Nordavind, alguns jogos e acho que até jogo bem VALORANT por trazer muitas coisas do CS para o jogo.

O jogo não me interessou muito, achei muito devagar o estilo de jogo. Não é Counter-Strike, então a minha paixão pelo jogo não me faria mudar e acho que pelo menos nos próximos dois anos não será uma opção, tinha de mudar muita coisa.

Fraglíder: Fazes parte do primeiro projecto de CS:GO dos Cream Real Betis sem jogadores espanhóis. O que te fez aceitar a proposta da organização? Acreditas que é neste local que vais encontrar a tão desejada estabilidade para a tua carreira?

horvy: Felizmente, nessa troca de equipa tive algumas propostas boas na mão e algumas que estiveram perto de se concretizar. No entanto decidi aceitar a proposta para jogar ao lado de jogadores que têm futuro, que se dão bem, que gosto deles e acho eles bons. Gostei também muito do coach da organização e acima de tudo gostei da forma como fui tratado.

Muitos fatores contribuíram para eu dar o sim à organização. Foi uma coisa muito boa ter sido chamado por eles e espero conseguir finalmente ter estabilidade. Todas na equipa temos um contrato de um ano e isso ajuda muito para construir uma estabilidade e a organização em si, pelo que conheci até agora, é excelente.

 

Fraglíder: Com um longo historial de mudanças de equipa, existe alguma em especial da qual te arrependas? Até onde consideras que podes voltar a chegar no CS:GO competitivo?

horvy: Tive algumas mudanças de equipa, mas se parar para pensar não foram tantas assim porque em várias não tive controlo. A única que tive controlo foi nos Baecon onde estava a ajudá-los por um tempo e não tinha nenhum contrato assinado nem nada, tinha apenas um acordo de três meses com eles.

Infelizmente os valores salariais propostos não batiam com o que queria porque sei o meu valor, mas eles na verdade não tinham como dar uma estabilidade para a equipa na altura. Eu disse que não ia continuar e acabei por sair, mas foi caso único, porque na Immortals não foi por culpa minha.

Na INTZ talvez tenha sido culpa minha por ter decidido jogar lesionado e acarretei com as consequências de a lesão ter piorado, não ter conseguido jogar no nível que desejava nem ajudar a equipa como queria. Tomei as decisões que tomei e em muitas situações não tive o que fazer e apenas tive de aceitar e seguir em frente.

Uma ou duas decisões que tive de tomar sigo plenamente consciente que tomei a decisão correta para mim. Acho que estou a voltar a um bom nível até por ter tido algumas boas equipas interessadas em mim o que quer dizer que o meu nível individual estava a subir – estando saudável, recuperado da lesão e praticando exercício físico ajuda-me bastante.

Pretendo continuar nessa linha saudável, continuar a trabalhar e a evoluir todos os dias mais e recuperar o tempo perdido que joguei lesionando assim como no ano que tive parado por causa da Immortals.

O meu objetivo é ir o mais longe possível que conseguir, mas vivo com as minhas decisões, conquistei algumas coisas que me fazem feliz e não posso reclamar das coisas que aconteceram comigo porque houve muitas situações difíceis de lidar, mas no geral houve muitas coisas boas que gostei bastante.

Fraglíder: Muito obrigado horvy pelo tempo dispendido e boa sorte para o teu futuro.