Entre o COVID-19 e os patrocinadores, a ausência de um Media Day e a necessidade de criar conteúdo, é também analisada a prestação dos sAw, o formato escolhido para a Final Four, os números alcançados ao longo da temporada entre outros temas como os desafios de realizar a liga sem componentes presenciais.

"As expectativas da MLP acabam por ser cumpridas porque tenho a certeza que oferecemos um excelente produto ao público"
Fraglíder: Mais uma temporada concluída, a 5ª desde a génese da MLP. A nível de apoios, vivemos uma situação difícil para as marcas devido ao COVID-19 mas MLP conseguiu manter quase todos os parceiros das temporadas anteriores excepto a Worten Game Ring. Nas vossas atividades, sentiram o impacto do COVID-19 no que diz respeito ao apoio das marcas ou foi algo que se manteve inalterado?
KKM: A situação do COVID-19 é algo que cada marca reage de maneira diferente, temos setores mais afetados do que outros. Felizmente, as marcas ou parceiros que apoiam a MLP mantiveram-se firmes nos seus acordos, mantiveram a sua palavra e reconhecem o valor que a Master League Portugal lhes traz.
Conseguimos realizar sem quaisquer problemas a quinta edição como também iremos realizar a sexta edição – os nossos parceiros permaneceram firmes e espero que continuem.
Fraglíder: A Master League Portugal arrancou no início de Março com o qualificador fechado e teve a sua jornada inaugural do final do mês cancelada e transitada para o online pelas razões que todos sabemos. Enquanto gestor de produto da MLP, que expectativas criaste para esta temporada quando soubeste que não iriam existir componentes presenciais?
KKM: Como é evidente, toda a estrutura da MLP teve de se adaptar de alguma forma devido ao COVID-19. Tal como disseste, teríamos a nossa jornada inaugural em Santa Maria da Feira, teríamos o nosso habitual "Media Day" que utilizamos para a criação de conteúdos e com isto, tivemos de repensar um bocado a liga e também a própria roda de conteúdos que costumamos criar.
Procuramos outras opções, perceber o que o público poderia ter gosto dentro do online, em escutar e ver, e fomos em busca de novas interações com ele e procurar aquilo que éramos capazes de fazer.
Tínhamos algumas ideias que acreditamos poderem ser realizadas mas não são exequíveis no nosso nível, por isso acho que as expectativas da MLP acabam por ser cumpridas porque tenho a certeza que oferecemos um excelente produto ao público, tanto nas redes sociais como nas transmissões dos jogos.

"Não estamos aqui para ser um boicote, estamos aqui para ser um complemento, a principal referência em Portugal"
Fraglíder: Tradicionalmente esta era uma temporada que daria acesso ao Moche XL Esports, entretanto cancelado. Como é algo mais apertado a nível de tempo (realizado no dia anterior e manhã do XL), você apostam numa eliminação única BO3. No Inverno, sem preocupações temporais, temos um formato mais extenso com eliminação dupla e final BO5.
Sendo disputada online, havia espaço para fazerem adaptações à vossa Final Four. Quais foram as razões que vos levaram a manter o formato? Consideras que havia espaço para fazer algo semelhante à temporada de Inverno?
KKM: Quando fechamos a temporada, pensamos sempre em diversas questões sendo o formato uma delas. Definimos os prémios, os momentos e horas de transmissão e definimos o formato como eliminação única BO3 pelos motivos que falaste, sendo o XL um deles.
Contudo, o online neste momento engana – as pessoas dizem: "ah, é online, eles têm tempo". Não é bem assim, vejamos que neste momento decorrem diversos jogos da ESEA, as equipas tiveram de adiar vários jogos por causa dos torneios de qualificação da BLAST, o BLAST Showdown, o BLAST Rising, etc…
Existem tantas ligas online e as pessoas pensam que é fácil, como a MLP tem feito ao longo de cinco temporadas consecutivas, enquadrar-se nos calendários das equipas sem as prejudicar. Olhamos para a Master League Portugal e às vezes pensamos que é um sucesso ao acaso na gestão dos calendários com as equipas, mas a verdade é que não é.
Antes de se lançar qualquer calendário na MLP, tentamos perceber quais são os compromissos assumidos de todas as equipas que estão a participar na liga, procuramos não criar o conflito mas sim soluções. Não estamos aqui para nos sobrepor a outras competições mas sim para ser um complemento.
Somos a principal liga de Esports em Portugal mas também estamos aqui para dar a oportunidade a equipas nacionais de se manter em competições lá fora e continuar a ter essa possibilidade. Não estamos aqui para ser um boicote, estamos aqui para ser um complemento, a principal referência em Portugal mas permitindo que as equipas capitalizem lá fora.
Não vamos estar aqui a acrescentar diversos jogos porque já tivemos uma fase regular online, faria sentido agora termos muitos jogos nos Playoffs online? Se fosse em LAN, concordava plenamente porque é a emoção da LAN, é o espetáculo, é diferente.
O público quer ver ali os seus jogadores presencialmente, quanto mais tempo lhe mostrarmos o jogador, tanto as equipas agradecem como agradece o público porque estão a expor os seus patrocinadores, os seus jogadores e o público tem mais momentos para apreciar os melhores jogadores portugueses. Não estamos aqui para ser um boicote às competições internacionais e criar confusão nos calendários das equipas.

"Os sAw têm todo o mérito, trabalham com bastante empenho e estou convicto que vão colocar a bandeira portuguesa mais alta lá fora"
Fraglíder: A vossa 5ª temporada chegou ao fim no Domingo com a final entre sAw e Giants, tendo pela primeira vez um campeão invicto desde a fase regular até aos Playoffs. 18 mapas, 18 vitórias. Qual é a tua opinião sobre a prestação dos sAw ao longo desta temporada na Master League Portugal?
KKM: Os sAw confirmaram aquilo que a MLP, enquanto competição, via neles em Janeiro. Os sAw foram a única equipa na história da MLP a receber um convite direto para o qualificador fechado, não tiveram de passar pelo qualificador aberto. Esse convite, está escrito nos regulamentos, que é permitido por causa das suas mais valias e terem sido campeões nacionais.
Percebemos que esta equipa não teria de passar pelos qualificadores abertos – não existe neste momento nos estatutos ou regulamento da MLP possíveis convites diretos para a Liga – então foram convidados para o fechado porque sabemos realmente da qualidade e valor desses jogadores e uma coisa que as pessoas muitas vezes não valorizam e que nós na MLP valorizamos bastante.
Temos de perceber que entre estes jogadores nós temos o rmn, que eu gosto de brincar mas é, um jogador fundador da MLP. Temos o Alm que é um treinador fundador da MLP. Temos o Torres que é um analista fundador da MLP. Temos um arki que também participou na 1ª MLP. Temos o JUST e stadodo que participam desde a 1ª, mUt desde a 2ª e é preciso perceber que a liga também cresce com estes jogadores.
Eles crescem conosco mas nós também crescemos com eles, valorizamos esta relação direta que temos com os jogadores e com as organizações. Não estamos aqui a olhar apenas ao sai um, entra outro porque cada vez mais olhamos para os jogadores e para as organizações como nossos parceiros.
Sabemos que se eles nos ajudam e nós ajudamos a eles, a comunidade de Counter-Strike e a comunidade de Esports vai crescer – esta equipa é merecedora completa de um convite direto para o qualificador fechado e se houvesse a possibilidade de convite direto para a liga, esta equipa era merecedora também caso essa situação estivesse prevista nos regulamentos.
Esta conquista é mais uma amostra do trabalho que tem realizado ao longo destes meses, são alguns dos melhores jogadores portugueses – o arki agora também consideramos português e é pena não terem perdido um mapa. Eles sabem que eu estou na brincadeira mas é pena porque esta final foi bem disputada e, se fosse a três mapas, certamente seria ainda melhor disputada.
Os sAw têm todo o mérito, trabalham com bastante empenho e estou convicto que vão colocar a bandeira portuguesa mais alta lá fora e estamos aqui também, enquanto MLP, para os apoiar.

"Mais nenhuma liga em Portugal cria conteúdo e valor em torno das suas equipas como a MLP, queremos ser uma liga (…) que cria valor para toda a gente"
Fraglíder: Por falar em final, esta da Master League Portugal foi o culminar de uma temporada em que usufruíram dos vossos melhores números. 14.039 foi o pico de pessoas que estiveram a partir de casa a assistir ao duelo entre sAw e Giants. Que análise é feita deste novo recorde obtido e dos números ao longo da temporada?
KKM: Excelente. Quando olhas para estes números e para quem trabalha aqui há tantos anos nos Esports, mais concretamente Counter-Strike, a malta da Master League Portugal e outros que foram ficando pelo caminho em outros projetos comigo, para nós é excelente vermos os números portugueses a crescerem.
Vemos uma comunidade que se conhece e que é fervorosa a reconhecer cada vez mais jogadores, a dar-lhes o mérito ou pelo menos o reconhecimento enquanto representantes portugueses nos Esports. Estes números… temos que perceber a situação atual em que estamos, há mais gente em casa por causa do COVID-19.
Sabemos que o nosso trabalho tem crescido e temos conseguido chegar cada vez mais longe, temos trabalhado afincadamente nas nossas redes sociais enquanto apelamos a todas as organizações e jogadores que façam cada vez mais uso das suas para também eles crescerem e penso que têm sido dados passos concretos por ambos nesse sentido.
Estes números também refletem o interesse a crescer, tivemos uma temporada em que o core que era bastante conhecido rompe e acaba por ficar o fox de um lado, mUt e rmn do outro o que acabou por apimentar a situação.
Aparecem uns Baecon que poucos falam mas que fazem o seu percurso desde os qualificadores para entrar na Final Four, uma FTW que vem cimentando o seu projeto no Counter-Strike, procurando melhorar temporada após temporada, os eXploit que tiveram de se reinventar, uns OFFSET que acabam por ficar abaixo das expectativas mas não deixa de ser a organização OFFSET.
Os Galatics, a rapaziada de Viana do Castelo, acabam por dar alguns sinais de qualidade apesar de não terem sido felizes e uns GTZ Bulls que são uma miúdagem que, se tiverem cabeça, juntos ou em equipas diferentes devido às recentes notícias, acredito que se possam tornar em excelentes jogadores.
Penso que foi um misto disto tudo que fez com que os nossos números atingissem recordes, que a Master League Portugal fosse a competição em Portugal mais assistida em Esports e que é, para mim e para muita gente, a liga de referência em Portugal.
Mais nenhuma liga em Portugal cria conteúdo e valor em torno das suas equipas como a MLP, não queremos ser uma liga que se aproveita das suas equipas mas sim que cria valor para toda a gente e acho que conseguimos mais uma vez fazer isso.

"Espero que fiquem por cá porque a competição portuguesa é boa e recomenda-se, a MLP tem apresentado um bom nível" (Foto por João Carvalho)
Fraglíder: A nível de contéudos, esta temporada foi provavelmente a mais desafiante na Master League Portugal uma vez que não usufruíram de Media Day e tudo aquilo que foi criado em torno das equipas teve de ser produzido online. Como foi este desafio e processo de criar contéudo à distância?
scrapy: Sabiamos à partida que esta temporada ia ter um bocadinho de números inflacionados, de certa forma, devido à situação da quarentena e do confinamento. Queriamos criar, de alguma forma, conteúdo não só para expor os jogadores e clubes como o KKM disse mas também, enquanto liga e produto, para capitalizar sobre este novo público que surgiu e que foi bastante – conseguir criar conteúdo interessante para agarrar este público a temporadas futuras.
Como é que fizemos isso sem media day? Foi muito complicado, basta pensar no início da temporada a dificuldade que tivemos para obter umas simples fotos de jogadores. Sem mostrar a cara dos jogadores é difícil de contar a sua história e da equipa.
Foi necessário ir buscar algumas ideias antigas de temporadas passadas que nunca avançaram porque demos prioridade a outras devido ao Media Day; aqui, sem ele, foi possível recuperar algumas ideias mais antigas a nível de contéudo.
Foi preciso ter a equipa toda da MLP a pensar e a ter ideias para isto, é difícil manter as nossas redes e meios ativos durante practicamente três meses desde Março numa base quase diária, isso é extremamente complicado quando não tens conteúdos que tu fizeste originalmente.
Nós tínhamos muita coisa planeada da qual não fizemos quase nada porque tivemos de adaptar tudo em cima da hora. Se bem te recordas, esta situação do confinamento explodiu muito em cima da ocasião em que planeamos o nosso Media Day.
O público quer sentir que tem uma certa participação na liga, que pode opinar, que é ouvido. Esse foi outro aspecto fundamental na nossa interação com o público nas redes sociais, eles também aparecerem na transmissão. Toda a gente que manda uma DM à Master League Portugal, tem resposta. Quando nos dão tag num tweet ou story, vamos lá responder ou falar com essa pessoa, seja ela fã de que equipa ou de que jogador for.
A título de exemplo: O fox é o jogador com a maior fanbase em Portugal – nada me garante que ele vai estar presente na próxima edição da Master League Portugal. Enquanto liga, queremos que os fãs do fox, caso ele não jogue a 6ª temporada, continuem a ver a MLP. Isto para nós é importante criar valor e temos nos jogadores os principais protagonistas.
Houve outras particularidades este ano, sempre que uma equipa tinha uma competição internacional nós puxamos por essa equipa nas nossas redes, que o público se revê-se nas nossas publicações. Em suma, foi um desafio enorme fazer tudo isto sem Media Day e espero que na próxima temporada já seja possível a sua realização.

"Percebes que a tua equipa de trabalho está preparada para outros desafios e eventuais coisas que possam acontecer"
Fraglíder: Hora da clássica reflexão sobre esta temporada que agora encerra. Quais os pontos positivos, quais os pontos negativos? Se pudesses ter feito alguma coisa de modo diferente, o que seria? Agradecimentos e mensagens finais que queiras deixar?
KKM: Ponto negativo, não ter pelo menos a final em LAN no palco do XL, não ter uma equipa no maior torneio ibérico de Esports. Não ter uma equipa a levar a bandeira e a mostrar a bandeira num palco perante os seus fãs e sentir o seu carinho como em mais nenhum lado a não ser naquele palco.
Esse é sem dúvida o ponto mais negativo, enquanto organizador tu queres estar naquele evento porque é o maior de Esports em Portugal, não há nenhum que se compare àquele e tu tens o orgulho de estar ali a trabalhar 24, 48 horas e de lá estar. Tu sabes que aquilo chama atenção e que realmente as pessoas dão valor a este evento, chegas ao final do evento e dizes que isto valeu realmente a pena.
Quanto ao positivo, como o scrapy disse, talvez tenhamos conseguido chegar a um público que secalhar não ligava tanto a Esports ou que não conhecia tanto a Master League Portugal, isso é sempre positivo. É bom que eles comecem a conhecer os jogadores portugueses e não só os internacionais ou comecem a conhecer as competições portuguesas. Espero que fiquem por cá porque a competição portuguesa é boa e recomenda-se, a Master League Portugal tem apresentado um bom nível, seja de transmissão ou de Counter-Strike competitivo e isso é sempre um ponto positivo.
Outro ponto é o facto de termos conseguido reinventar-nos, puxar de algumas ideias que secalhar estavam arrumadas, puxar um bocadinho pela cabeça e perceber que tinhamos de percorrer um outro caminho para além do que estava planeado. É bom quando é feito com sucesso porque percebes que a tua equipa de trabalho está preparada para outros desafios e eventuais coisas que possam acontecer, isso é sempre importante e fico contente que, todos aqueles que trabalharam ou trabalham na Master League Portugal, direta ou indiretamente, consigam superar esse desafio.
Para terminar, agradecer às equipas e ao público que acredita no projeto da MLP porque, sem eles, nada disto era possível. Espero eu que na próxima temporada nos encontremos todos, seja no Media Day ou na Jornada Inaugural, o que é muito difícil com esta situação do COVID-19 mas pelo menos no Media Day para que se crie conteúdo e por a conversa em dia com as equipas.
Essa interação pessoal com os jogadores é sempre importante para perceber aquilo que as equipas gostavam que fosse alterado. Deixo já o repto que estamos sempre disponíveis no final da temporada para receber feedback e ver algo é possível alterar para a próxima temporada. Agradecer a ti pela entrevista e pela cobertura excelente que fazem sempre da Master League Portugal.
Por fim, agradecer à E2Tech, a malta às vezes não reconhece o nome mas é a empresa detentora da MLP e que trabalha para que seja possível ter uma liga desta qualidade. Espero que se continue a crescer porque ideias não faltam, visão não falta, o que falta é que os Esports em Portugal continuem a crescer e que dêem o boom real para que a Master League Portugal passe para outro nível mas neste momento já é de outro campeonato com a ESC Online!