É estranho dizê-lo, mas a verdade é que houve muita gente a gostar do tempo que passou em casa quando a pandemia rebentou. Claro que outra grande parte de pessoas não gostou e, pior ainda, foi afetada pelas consequências abruptas que este período atribulado trouxe.
Há quem tenha ficado em layoff e a receber menos, por exemplo, e há quem tenha ficado sem emprego. Mas nada disso aconteceu nos esports ou, pelo menos, não teve tanta relevância como noutras áreas e indústrias. Por isso, foi com alguma tristeza que, esta manhã, ouvi a notícia sobre o adiamento dos Prémios Esports Portugal para 2022, perfazendo assim dois anos sem uma cerimónia à imagem de 2019.
Sim, muitos eventos presenciais do setor foram cancelados e instalou-se uma grande confusão na indústria, mas a maioria dos organizadores de torneios e tantos, tantos outros adaptaram-se às circunstâncias atuais. No CS:GO, por exemplo, vimos os grandes campeonatos a acontecerem no ciberespaço, algo que não é assim tão estranho neste universo.
Perderam-se espectadores em espaços físicos, mas ganharam-se – ou pelos menos mantiveram-se – outros tantos a consumir tudo através das habituais plataformas.

JOliveira10 foi o grande vencedor da última edição dos PEP onde arrecadou 4 categorias.
Comentadores, jogadores, jornalistas, organizadores, assessores, enfim, os profissionais não pararam. Em muitos casos, adaptaram-se. O que para grande parte das pessoas era novidade, para a maioria daqueles que trabalham em esports não o era.
Falo de teletrabalho, que muitas vezes significa fazer esforços em horários que não são tidos como normais e habituais num qualquer trabalhador. E muitos deles, como é caso de streamers, até ganharam novos seguidores – afinal, o tempo passado em casa deu espaço para os espetadores descobrirem e consumirem mais entretenimento.
Todos procuraram formas de estimular o cenário, como os já referidos TOs, que na sua maioria não parou de organizar torneios – afinal, os sponsors iriam continuar a ter pelo menos o mesmo número de espetadores a ver as suas marcas a passar nas transmissões. Também em Portugal tivemos motivos para celebrar a inovação e a evolução da indústria – no caso da comunicação, por exemplo, vimos a SIC, um autêntico tubarão dos media portugueses, a entrar em cena com o projeto Advnce no final de 2020.
Durante esse ano, o streamer MoveMind teve um reconhecível crescimento e, entre tantos outros casos que poderíamos referir, a equipa portuguesa SAW chamou a atenção de tudo e todos no cenário internacional de CS:GO. E, já agora, para puxar a brasa para a minha sardinha: que jornalista de esports cessou ou abrandou atividade?

Em 12 meses Movemind somou 90 mil seguidores, começando com mil em Janeiro de 2020.
Ignoremos, ainda assim, o ano de 2020. Acreditemos que o impacto abrupto da pandemia foi, realmente, difícil de gerir. Aceitemos, então, que em 2021 não houve espaço para realizar uma edição de Prémios Esports Portugal. Mas perguntamos: por que razão é que a organização não se adaptou para uma eventual edição digital este ano?
Por que razão é que não vamos premiar aqueles que tanto se esforçam e trabalham em plena pandemia, aqueles que ajudam a pompear o sangue desta indústria?
Não pedíamos um evento presencial nem pedíamos excentricidade. Estamos inseridos num meio que funciona muito pela internet e, assim sendo, volto a reiterar: como é que não se realiza uma edição digital? Se um evento do calibre do Portugal Fashion o faz, como é que um evento de uma área que vive do ciberespaço não o concretiza?
Os Prémios Esports Portugal são uma excelente e importante iniciativa. De certa forma, funcionam como uma espécie de materialização de um universo algo virtual e como uma ferramenta que ajuda a suster e estimular a comunidade do cenário de esports.

Esta era do CS online viu os Baecon a conquistar a sexta temporada da MLP.
Os profissionais, de jogadores a jornalistas, mereciam reconhecimento pelo esforço. Com a realização da próxima edição em 2022, podem ficar esquecidos os feitos realizados durante um dos anos mais marcantes da indústria – ou, pelo menos, não vão ficar materializados na nossa história.
Não, não é injusto premiar o que foi feito num ano completamente atípico. É injusto não premiar aqueles que trabalharam incessantemente em tempos completamente atribulados, tudo por uma indústria que, neste pequeno país, quer ganhar cada vez mais espaço.
É com pena que o digo, mas deixar os feitos de 2020 para trás com um comunicado marcado por chavões triviais é menosprezante para todos aqueles que não tiveram layoffs nem pausas forçadas no trabalho que têm nos esports.
Mas venha daí a edição de 2022. Estaremos aqui para a celebrar.
ERRATA: O artigo original dava ideia de que não houve edição em 2020, mas foram atribuídos prémios nesse ano referentes a 2019.