1850, o ano em que a indústria dos transportes dá o salto. Pelo menos neste Transport Giant, editado pela JoWood no passado mês de Agosto. O título leva-nos por caminhos antes trilhados por um Industry Giant ou por um Transport Tycoon e, baseado (talvez demasiadamente) nestes, leva-nos a percorrer parte da América e Europa em busca daquilo que move e faz mover o ser humano: dinheiro.

Confesso que o estilo de jogo me agrada. Sempre gostei deste género de jogos em que a nossa capacidade de gestão dos recursos é o que nos leva a seguir em frente. Por norma algo complicados de início, o problema costuma resolver-se rapidamente após jogar o tutorial ou através de dicas dadas no decorrer do jogo. E esta foi a surpresa inicial. Onde pára o tutorial?! Sem nada que se assemelhasse a uma lição sobre o jogo, arrisquei descobri-lo por mim próprio. Comecei então um dos dois modos de jogo disponíveis (Endless Game). Este, como o próprio nome indica, permite ao jogador aventurar-se e levar a sua empresa de transportes até que ele próprio decida quando deve fechar as portas. Bem sei que começar pelo modo de Campanha seria, eventualmente, mais recomendável, mas a curiosidade de ver até onde conseguiria chegar este Transport Tycoon foi mais forte.

Foi-me dado a escolher um de dois continentes. Europa ou América. Ficou o aviso de que a Europa seria mais difícil, mas calculei que me fosse mais agradável ver no jogo paisagens europeias. Quem sabe até Portugal? Desenganem-se. O melhor que consegui foi mesmo o Reino Unido. Já não é mau. O mapa mostrou-me sensivelmente as maiores cidades do Reino Unido e permitir-me-ia testar os diferentes tipos de veículos sem grandes obstáculos. De autocarros a aviões, passando por comboios, barcos, helicópteros, dirigíveis e camiões, queria experimentar de tudo um pouco.

Os gráficos isométricos não deslumbram mas também não se encontram maus. Estão agradáveis para o tipo de jogo que se pretende, embora o zoom in para ver detalhes das cidades ou dos veículos surja algo pixelizado. A banda sonora também não prima pela suprema originalidade ou variedade, mas não é desagradável, com musiquinha de elevador pincelada aqui e ali de buzinas, sinos de igreja, pássaros ou ruído de aviões. Digamos que entretém sem comprometer. A dificuldade principal prendeu-se, no entanto, na falta de auxílios. Nada de tooltips, nada de ajudas escritas. Assim, a minha aventura inicial por este Transport Tycoon no modo Endless game chegou ao fim pouco tempo depois, quando, após ter investido numa ligação férrea entre duas cidades, me vi privado de criar uma nova. Sem perceber muito bem porquê, decidi-me tentar as Campanhas, começando na mais fácil esperando assim obter alguma ajuda.

Comecei então no longínquo ano de 1850, no velho oeste Americano. A minha tarefa: levar 50 unidades de tábuas de madeira a um punhado de fortes em construção, e isto no prazo de 20 anos. Para quem, anos antes, jogara Transport Tycoon horas a fio, pensei que me iria sair relativamente bem, e de facto assim foi durante os primeiros tempos. Isto é, depois de ter percebido como rodar os edifícios que queria construir de modo a que o acesso ficasse virado para o lado que eu pretendia. Bastou-me então trabalhar as coisas de modo a que uns cavalos (ou bois de carga) carregassem os troncos de madeira de umas serralharias ali existentes. Estas transformariam os troncos em tábuas e poderia levá-las aos fortes. A exemplo do habitual neste tipo de jogos, quanto mais depressa chegar a mercadoria, maior é o valor pago por ela. Ou seja, um cavalo é mais caro que um boi de carga, mas como também consegue levar a carga mais rapidamente, permite-nos ganhar mais dinheiro em menos tempo.

O problema foi mesmo o tempo. E os engarrafamentos. De novo, o Transport Giant demonstrou que iria ser algo duro de roer em termos de facilidade de utilização. O tempo começava a apertar e eu tinha uns 20 cavalos de mercadorias encravados num cruzamento. A solução? Retirar alguns de circulação. Claro que com isto já não fui a tempo de concluir os objectivos no tempo previsto, mas não desisti e, à segunda tentativa, armado já de algum conhecimento da anterior experiência, ultrapassei o nível sem grande dificuldade.

A Campanha prossegue então naquela que se desenha como a saga de uma família, magnata dos transportes. O jogo coloca-nos como herdeiros do herói do anterior nível em algumas situações, apregoando a honra da família através do sucesso nos negócios. E isto seguindo uma cronologia em que o desenvolvimento dos meios de transporte vai sendo notório. Surge o cavalo de ferro. Atravessar as pradarias numa máquina a vapor tinha os seus inconvenientes, tanto como vantagens. É que é preciso alimentar os comboios a água. Claro que nada disso é claro o suficiente e acabei largos minutos a ver os meus comboios andarem a passo de caracol sem perceber muito bem porquê. Lá atinei com a coisa, mas confesso que a seguinte rasteira me deixou algo perplexo… Continuava com problemas em criar linhas férreas e a ausência de um help, de uma ajuda mais elaborada não ajudava a explicar aquilo que para mim era um erro. Então eu podia fazer uma ligação entre o Porto e Lisboa, mas não podia fazer uma entre Beja e Évora? Pois… Neste Transport Giant o conceito de ligações por caminhos de ferro é bastante mais exigente. Descobri mais tarde que todas as ligações têm que estar interligadas, ou seja, eu posso fazer uma ligação entre Évora e Beja desde que faça uma ligação da minha linha de Lisboa até Évora primeiro. Esta situação obriga-nos a perder algumas oportunidades de negócio ou a perder tempo planeando ao milímetro o sítio onde queremos instalar a nossa primeira ligação por caminhos de ferro. Poderá ter as suas vantagens, admito… Mas confesso que não me agradou particularmente.

Entretanto vim a descobrir novas peripécias com os meus comboios. Aquilo que no Transport Tycoon me custava um tempo precioso a analisar e planear para evitar colisões de comboios, criando desvios para que comboios, para evitar colisões espalhafatosas que faziam as primeiras páginas dos jornais e um rombo no meu bolso, no Transport Giant resolve-se de uma maneira bem mais simples e… estranha. Se o comboio A se dirige de Lisboa para o Porto a 200 Km/h e o comboio B se dirige do Porto para Lisboa a 150 Km/h, quando é que se dá a colisão? Resposta certa: nunca. Ao chegarem próximo um do outro, os comboios simplesmente abrandam a sua marcha, ficam semi-transparentes e atravessam-se um ao outro. Simples, não? Directamente da 5ª dimensão. E, curiosamente, sem notícias nos jornais a falar da admiração dos passageiros. Esta solução facilita um pouco, mas acaba por deixar um sobrolho levantado.

O resto vai sendo algo linear, com aeroportos, heliportos, bases para dirigíveis, embora lhe falta a característica do Transport Tycoon, de gerar grandes terminais com diversos meios de transporte. De notar também alguma dificuldade na criação de horários para transportes (carregar um comboio com 50 troncos leva-nos a um infindável clicar de rato), principalmente quando, nos caminhos de ferro, existem muitas encruzilhadas. É nestas, aliás, que o jogo encontra outro problema. É que, apesar de se modificar as estações (com bastantes opções, diga-se) para lhes adicionar novas linhas, de modo a que uma estação com bastante tráfego funcione bem, os comboios parecem não entender a subtil dica de se dirigirem para uma das 4 linhas vazias e ficam à espera da que está ocupada a descarregar 40 vagões de passageiros. Outro problema detectado, embora apenas uma vez, foi com a utilização de barcos, em que, ao criar o horário para o barco, de um porto para o outro, surgiu uma mensagem de erro a dizer que a ligação entre as duas estações não estava completa. Ora, quando a mesma mensagem me surgia para camiões ou comboios, basta-me analisar o percurso e ver onde falta um segmento de estrada, mas tendo o Reino Unido um mar à volta, confesso não entender o que possa ter faltado ali.

Ainda assim, ressalve-se que este Transport Giant é um título extremamente agradável e até viciante para os amantes do género. Sem deslumbrar na oferta, entretém de forma agradável, e tem uma longevidade bastante grande, fruto das diferentes épocas e locais onde podemos começar um novo jogo. A originalidade não é muita, mas é um produto que, mantendo a mesma linha, funciona de maneira diferente dos seus antecessores.

Avaliações

Jogabilidade – 7/10
Originalidade – 6/10
Gráficos – 8/10
Som – 7.5/10
Longevidade – 9/10

APRECIACAO GLOBAL – 8.5/10

Imagens:

Um comboio à beira rio…

Uma quinta e as diligências

Alguém falou na Carris?

Mais Screenshots: Galeria

Editora: JoWooD Productions
Produtora: JoWooD Productions
Género: Estratégia

Requisitos:

– Mínimos

Pentium 3-500, 64 MB RAM, 32 MB 3D graphics card, CD-ROM, mouse, DirectX 8.1, Win98/Me/2000/XP.

– Aconselhados

Pentium 3-800 (ou melhor), 256 MB RAM, 64 MB 3D graphics card, CD-ROM, mouse, DirectX-compatible sound card, DirectX 8.1 (ou melhor), Win98/Me/XP.

Site Oficial: http://www.transportgiant.com/

Review por: Ricardo «PuRpl3» Mota