Assim como o desporto tradicional é composto por várias modalidades, umas mais célebres ou não, os esports seguem a mesma tendência. Do CS:GO ao Excel ou Free Fire, já explorado aqui anteriormente, cada um tem uma conjuntura muito específica, não só pelo nível de acessibilidade como historial.
Lançada a primeira versão no dia 29 de outubro de 2003, Call of Duty é um dos jogos mais antigos e um dos mais vendidos, ultrapassando a quantia de monetária dos 15 mil milhões faturados pela Activision com a venda dos vários jogos da franquia.

Call of Duty estabeleceu como um dos jogos primordias com o intuito do realismo (Foto: COD)
No modo história com várias referências a factos verídicos de guerras do século XV, o Call of Duty sempre se destacou pelo seu realismo. Todavia, isto sempre levou a que o jogo requeresse um computador mais potente ou uma consola para fazer o rodar, ainda lançando quase todos os anos novos jogos a preços muito altos. Consequentemente, o conceito de inclusão que apontámos ao Free Fire está longe de qualquer associação com o Call of Duty pelos fatores apontados.
O FPS da Activision desde cedo se instalou como um dos principais jogos no Estados Unidos, país onde o poder de compra é maior, tendo ocupado o segundo posto de país com maior produto interno bruto (PIB) do mundo em 2015.
Em 2008, a Activision e a Blizzard firmaram uma parceria que resultou na fusão de ambas as empresas. Parte do grupo faz a Major League Gaming (MLG), organizadora de competições de esports com grande relação com o Call of Duty que anteriormente já hospedou um Major de CS:GO, que terminou com a Luminosity Gaming de Gabriel “FalleN” Toledo e companhia como campeões.
É possível estabelecer uma relação entre o fenómeno vivido nos Estados Unidos com o basket e o Call of Duty. Em ambos, o país construiu um legado e um colosso reconhecido internacionalmente como próprio da região, sabendo-se que a elite compete por lá. Não é totalmente errado apontar a Call of Duty League como uma das maiores ligas de esports do mundo.
A competição é formada pelo sistema de franquias em que uma vaga na mesma, segundo a ESPN em 2020, custaria a quantia megalómana de 25 milhões de dólares.

A CDL atrai milhares de espetadores (Foto: CDL)
Para os que não estão tão familiarizados com a modalidade e o competitivo, conseguimos encontrar na liga equipas de outros esports como FaZe, Luminosity Gaming, 100Thieves, Envy, Misfits, ANDBOX, OpTic, Rogue e c0ntact. As restantes equipas são detidas por empresas particulares com investimentos na área. Uma das novidades na edição de 2021 da competição foi a normalização do modo de jogar a ser jogado com computador, mas com o comando da consola. Recuando um pouco, quando fazíamos o paralelismo entra relação do basket e o COD com os Estados Unidos, é possível encontrar uma conformidade entre a NBA e a CDL.
As equipas têm a sua denominação com nomes de cidades combinados com referências das organizações responsáveis. Desta forma, podemos encontrar entre as doze participantes, formações como a Los Angeles Thieves, Atlanta FaZe, OpTic Chicago ou Paris Legion. Esta é uma das especificidades utilizadas no NBA e que a CDL soube transpor para a sua competição com equipas como a Los Angeles Lakers, Chicago Bulls ou Dallas Mavericks, formações da principal liga de basket do mundo. Antes da pandemia, cada cidade das equipas sediaria os jogos da liga semanalmente e presencialmente.

Paris Legion é a segunda equipa a homenagear uma cidade europeia depois da London Royal Ravens (Foto: CDL)
Nesta mesma temporada, já foram batidos os records de espetadores simultâneos desta edição com 136 mil a assistir ao jogo entre Toronto Ultra e OpTic Chicago. Contudo, ainda insuficiente para bater o pico atingido na temporada passada com o jogo entre Dallas Empire e Atlanta FaZe que teve um auge de 330 mil espetadores.
A liga é transmitida semanalmente no Youtube, naquele que foi um dos maiores negócios dos esports. A transição da transmissão da competição da Twitch para o Youtube, selou-se num negócio da Activision Blizzard e a Google avaliado em 160 milhões de dólares. O principal ponto do negócio centra-se na exclusividade de transmissão do Youtube da Call of Duty League e Overwatch League. O acordo, segundo fontes do The Esports Observer, almeja ainda clausulas e recompensas com determinados objetivos de visualizadores, tidas como “alcançáveis”.
A Call of Duty League e o competitivo da modalidade parece difíceis de entender à primeira vista. No jogo vigente, o COD Cold War, temos três modos de jogo a ser disputado num frente a frente entre quatro atletas: o Hardpoint ou Zona de Conflito, Search and Destroy e Control. O primeiro é composto por várias zonas do mapa que vão sendo alteradas ao longo do jogo em que é possível pontuar. Cada segundo nessa zona equivale a um ponto e leva vencida quem atingir primeiro a faixa dos 250 pontos.
COD Cold War trouxe novidades para o competitivo (Foto: CDL)
O segundo modo de jogo é idêntico ao Counter-Strike, assemelhando-se o facto de plantar e desarmar a bomba pelos atacantes e defensores. Control é composto por duas zonas no mapa em que se uma das equipas conseguir ter na sua posse ambas as zonas no tempo consegue levar por vencida a ronda. Outra das alternativas para vencer a ronda no modo de jogo de Control é derrubar as 30 vidas que cada equipa tem direito. O competitivo é jogado nesses três modos de jogo e cada série é disputada à melhor de cinco com os jogos a seguirem a mesma ordem e a recorrer à repetição dos mesmos caso necessário. Naturalmente também existem mapas para cada modo de jogo com sistema de vetos.
A Call of Duty League prolonga-se por cinco etapas constituídas por duas fases, a Home Series e o Major. Na primeira, as equipas são divididas em dois grupos em que jogam todas entre si de cada grupo em jogos como explicados em cima. Consoante as classificações nos grupos da Home Series, as equipas além de garantirem pontos, definem também a árvore do Major, etapa que é jogada em sistema de mata-mata com lower bracket. Desta forma, a equipa que terminar em primeiro do seu grupo encontra-se mais à frente na bracket, enquanto a formação que terminar em último começa na chave dos perdedores sem chance de perder um jogo se quiser continuar “viva” na competição.

Na imagem jogadores da Chicago Hunstmen em 2020, equipa que vendeu o seu lugar em 2021 à OpTic (Foto: CDL)
Posto isto, com pontos definidos em ambas as fases de acordo com os seus resultados, as oito equipas que somarem mais pontos ao longo das etapas disputarão os playoffs para definir o grande campeão. A sua composição também será estabelecida conforme os pontos e beneficiará as equipas com mais pontos obtidos durante a temporada regular. Em cada etapa existem os seus campeões, as equipas que somarem mais pontos no caso da Home Series e a equipa que for campeã dos Majors, adicionando grandes quantias monetárias ao longo do campeonato.
Na maior liga da modalidade é normal existirem suplentes sem que exista um roster lock exigido pela competição. Usualmente, cada formação faz pequenas alterações no seu elenco em cada etapa com a entrada de suplentes ou de jogadores de outras formações, mantendo-se o mesmo lineup para cada etapa.
Uma das equipas que mais histórico e tradição tem na modalidade é a FaZe, equipa que ao longo dos anos se expandiu para outros jogos. Capa da Sports Illustraded, a organização tem grandes raízes com o COD, visto que os fundadores do clube são ou foram criadores de conteúdo do jogo ou competidores do mesmo. A FaZe conseguiu manter-se sempre no mais alto nível com dois Majors e um segundo lugar de Major na presente temporada da CDL.

Em parceria com a Atlanta Esports Ventures, FaZe apresentou um elenco forte para a presente temporada (Foto: CDL)
Na edição de 2020, FaZe caiu aos pés da Dallas Empire, formação da Envy, na grande final. Além do mais é possível reparar que a equipa se mantêm entre os três melhores em cada competição que disputa, na maioria dos casos. FaZe sempre conseguiu estabelecer um laço muito forte na relação com o COD, quer seja no competitivo ou criadores de conteúdo.
Por cá em Portugal, o COD vai sendo mais discreto, sem que os holofotes para si estejam apontados. For The Win vai continuando a cimentar um lugar no cenário, muito pela sua estabilidade de projeto, característica que não acompanha os restantes criados. A fénix somou todas as grandes competições da modalidade da Portuguese Esports Gaming na primeira divisão, deixando escapar o título de 2017-2018 para os Panthers.
Contudo, temos um português a levantar a nossa bandeira, trata-se de João “kidz” Cruz, jogador que atuou ao lado de três britânicos no Challengers Elite da Europa pela Team 3G.

Equipa de FTW na Lisbon COD Party (Foto: Divulgação)
Estaremos expectantes para ver o futuro do COD em solo nacional e um dos bons indícios é o novo recorde de equipas inscritas na última edição da Liga Revelação, com um total de 19 formações. Nos bastidores, vai-se falando de falta de união de todos os intervenientes para catapultar o cenário regional.
Concluindo, despercebido por cá, o Call of Duty vai assumindo papéis de um colosso e um fenómeno cada vez mais à parte no mundo dos esports.