A estreia da Panthers na Master League Portugal é já esta quarta-feira. Na antevisão da prova, o FRAGlíder conversou com Miguel “LucKyMaNN” Mota, jogador das panteras, que falou sobre os objetivos, a entrada no projeto e a mudança repentina a que foram obrigados.

(Nota: Esta entrevista foi realizada a 17 de setembro de 2022)

FRAGlíder: Quais são os objetivos que a Panthers definiu para esta época?

LucKyMaNNOs objetivos da Panthers, basicamente, incidem sobre a ESEA. Gostávamos muito de subir para a ESEA Advanced. Este é um core que já tem esse objetivo há algum tempo. Conseguem sempre a chegada aos play-offs e ficam pelo caminho. Acho que era um bom objetivo e é muito exequível. A nível nacional, obviamente que a presença na MLP é o clássico de tentar chegar à final four. Infelizmente, vou ter de me ficar pela ideia de querermos chegar, pelo menos, aos play-offs.

Estamos um pouco limitados, temos três pessoas com horários escolares e o ano letivo vai começar. Vai ser um bocado mais apertado, mas diria que se tivéssemos mais tempo conseguíamos chegar, pelo menos, a uma meia-final. Acho que era fazível. Este core já conseguiu uns play-offs da MLP há muito tempo, mas isso deve ser sempre o mínimo que podemos prometer a nós próprios também. Depois, talvez também uma melhor cara na OMEN WGR Retake e tentar melhorar com o tempo. Tentar sempre que seja um projeto não a curto, mas a médio/longo prazo.

Tu também és uma das pessoas que está a estudar, portanto presumo que tenhas um horário apertado. Quão desafiante é estares a conciliar um curso superior com uma vida nos esports?

Apenas tive, até agora, uma experiência que me permita responder da melhor forma. Foi o projeto dos Youngsters dos SAW, onde só eu é que tinha que conciliar o ensino superior com a vida competitiva de CS. É um bocado desafiante, porque exige reduzir um pouco de tempo. Normalmente, costumo dizer que um jogador que está no ensino superior e tem a via competitiva presente na sua vida, tem que ter o foco em três coisas: a vida universitária, que engloba já bastantes coisas, a competição e depois o âmbito social. O jogador nunca vai conseguir ter o foco em três ao mesmo tempo, vai ter de baixar sempre em uma. O que aconteceu, e eu estou a pensar que é o que vai acontecer no meu caso e nos meus colegas, é que alguma delas vai sofrer durante algum tempo. Ou seja, ou o rendimento na faculdade não corre tão bem como o rendimento do competitivo, ou a vida social é prejudicada. Acho que é relativamente fácil de perceber quais são os desafios de estar a estudar ao mesmo tempo que se joga competitivamente.

Vamos ter de racionalizar melhor o tempo, pelo menos eu, em termos de cadeiras a que posso faltar, cadeiras que posso evitar ir mais tempo e consigo fazer em avaliação final. Penso que seja o exercício que os meus colegas vão também fazer. A diferença para o meu projeto anterior é que temos três pessoas com horários em ensino superior, ou seja, vão ser três horários que vão confrontar. Eu vou ter, pelo menos, dois dias em que não consigo jogar. Não sei se os meus colegas vão ter horários em que vai haver outro dia que é impossível jogar. É uma incógnita, é um desafio que mais para a frente, com mais certezas, vamos perceber o impacto que vai ter.

“Não cheguei a pensar, de todo [antes de assinar]”

 

Há aqui, portanto, a possibilidade de não conseguirem treinar todos os dias.

Sim. A ideia é sempre tentar proteger os mínimos de trabalho, de carga laboral em termos do que é a preparação para os jogos. Obviamente que vai ser preciso aqui um jogo de horários muito preciso. Provavelmente vão haver alturas em que nós, jogadores, vamos precisar de mais tempo para nos dedicarmos ao estudo, nomeadamente na época de exames. Relativamente ao conciliar os horários, acredito que consigamos manter os cinco dias de treino mínimo, ou seja, aquelas oito horas em cinco dias, um pouco graças aos fins de semana. Acho que nenhum dos meus colegas tem aulas ao sábado, portanto costuma ser uma garantia. Mas acaba por ser um problema se formos ver isto ao nível social. Não sei como é que a maior parte do pessoal faz, mas eu de vez em quando tenho de ir até casa. Estar com a família é importante, também para a saúde mental do jogador. É a questão dos três pontos, vai haver sempre uma que não está no rendimento máximo.

Há alguns jogadores na Panthers com quem jogaste anteriormente. De que forma isto ajudou à tua adaptação e ao crescimento mais rápido do coletivo?

Teve muito impacto em duas vertentes, uma muito crucial, que é a minha entrada no projeto. Lembro-me quando estávamos a idealizar o projeto, quando se colocaram os nomes na mesa, não cheguei a pensar de todo. Tinha as pessoas com quem queria jogar, tinha amigos e pessoas que sabia que tinham a mentalidade que eu tinha para evoluir e conseguir bons objetivos. Não pensei muito, porque sabia, e passo já para a segunda vertente, que a evolução ia ser diferente.

Estamos habituados a levar uns com os outros todos os dias, já sabemos quais são as preferências uns dos outros. Consegui também coisas bonitas com eles, neste caso com o Didjey e com o Logicz. Conseguimos bons objetivos e continuamos a dar-nos todos bem. O suka também já tinha jogado com ele mais atrás, noutra altura, e é uma pessoa que sempre tive muito apreço. Isto torna a evolução mais rápida, obviamente, e há muitas coisas que dá para reaproveitar. É sempre mais fácil treinar com pessoas que conhecemos, com quem nos damos bem e temos confiança, sobretudo. Tinha a certeza que o projeto ia andar para a frente a partir do momento que sabia que era com estes três que ia jogar. Depois ainda se juntou o Louro e reforçou-se mais essa ideia.

Didjey é um dos jogadores que LucKyMaNN reencontra.

Vocês conseguiram logo alguns resultados interessantes nos qualificadores para o RMR. Achas que também se justificam por estes fatores que mencionaste?

Acredito que sim. Acho que é um fator que ajuda bastante, apesar de não achar que tenha sido o fator chave. Acredito que esses resultados bons que tivemos, sobretudo inicialmente, tiveram que ver com o fenómeno honeymoon phase. Estávamos todos muito ansiosos para ver, estávamos todos a investir muito tempo e tínhamos todos muito tempo para investir nessa altura, verdade seja dita. Conseguimos dar alguns upsets. Esse fator é positivo, contribui para alguns resultados, mas não foi crucial. Se tivesse sido tão crucial, os resultados mantinham-se consistentes, que é uma coisa que não conseguimos manter. Houve aquele impacto inicial, tivemos esses resultados mais importantes, mas não houve aquela continuidade. O tempo começou a encurtar, o Didjey entrou de férias, tivemos uma paragem e não houve essa continuidade.

Como é que sentes a Panthers antes da MLP? Como está o momento atual e até onde achas que podem chegar?

Eu acho que estamos aqui num impasse em termos do que é a evolução do nosso jogo, porque estamos a ter dores de crescimento. Estamos numa fase em que não temos muito tempo. Por exemplo, o Didjey está de férias, tinha-as planeado há algum tempo e é difícil de cancelar isso tudo. Estivemos a jogar com um stand-in durante vários jogos na ESEA e em outras competições que tínhamos. Torna-se um pouco complicado para treinar, apesar de o estarmos a fazer com o próprio substituto.

Obviamente, estávamos a ter algumas dores de crescimento, o que é natural. Após o início da equipa e aquele honeymoon phase que acabou, as dores de crescimento começam a aparecer quando tentamos defender uma ideologia de jogo, quando começamos a acordar algumas coisas e a forçar certos protocolos para seguir um CS mais racional e com toda a gente na mesma página. Isso vai custar. É uma questão também de tempo e de ver como a equipa adapta face a isso, porque agora é que conseguimos ver, mediante as dificuldades e alguns resultados negativos, até que ponto a equipa consegue sobreviver. É enfrentar essas dores de crescimento que estamos a ter e apresentar soluções, tentarmos ser mais consistentes quando tivermos uma ideologia de jogo mais assente.

“Fico contente que um jogador de cá complete a FTW”

 

Achas que pode sair uma gracinha da Panthers e intrometer-se na luta no grupo da MLP?

Gostava que fosse possível essa tal gracinha. Vão ser sempre jogos difíceis, vamos jogar já contra a FTW. Gostava imenso que a minha equipa conseguisse defrontar-se com grandes equipas que costumam chegar à final four. Acho que toda a gente gosta de jogar contra boas equipas e que nos levem ao limite. Acho que é por isso que jogamos e competimos, para nos revelarmos melhores a cada dia que passa. Venha o que vier, a equipa que vier, temos de mostrar a nossa melhor cara e vamos passo a passo.

Em caso de perca do suka, quão duro é este golpe para vocês? Têm uma solução para isso?

Já temos trabalhado há algum tempo juntos e é sempre chato termos de arranjar um jogador, adaptar o jogador e refazer algumas coisas. Esse processo é sempre chato, porque demora um pouco a adaptar. Aos problemas que já estávamos a ter, acrescenta-se mais um. Mas são coisas que estamos habituados. Eu percebo que o feedback da comunidade, às vezes, até é o contrário, mas são coisas que acontecem. Temos de estar preparados se for o suka, se for o Louro ou se for outro jogador qualquer. Pode acontecer. Obviamente não estávamos a pensar atempadamente num jogador para o substituir.

Ficamos num impasse e tivemos de nos juntar à mesa. Ao fim de algumas discussões e algumas conversas, chegámos a um quinto que eventualmente será anunciado e que é do nosso agrado. É o que conseguimos agora, mas que apesar de ter sido em cima do joelho, acredito que nos possa trazer uma consistência boa, apesar de ser um jogador diferente do suka. Apesar de ter sido um choque, fico contente por ser um jogador de cá a completar uma equipa como a FTW. Fiquei muito contente com a notícia, apesar de ter sido um golpe, e só desejo o melhor ao suka. Ele sabe que o vamos apoiar da mesma forma, exceto quando jogarmos contra ele.

De que forma é que esta mudança mexe com o que pode ser o vosso desempenho na MLP? Altera as vossas expectativas?

Acho que é muito prematuro estar a fazer uma análise. As previsões que eu já disse foram pré-estabelecidas por nós, enquanto jogadores, e pela organização. Agora temos de readaptar conforme formos jogando com o novo jogador, coisa que ainda não tivemos oportunidade de fazer. É ver como correm os primeiros jogos, pode ser que aconteça um novo fenómeno como o da honeymoon phase, uma revenge do suka, sei lá (risos). Pode ser que aconteça algo do género, mas, caso contrário, os jogos vão ser o que é expectável. Coisas preparadas em cima do joelho, pouco preparadas. Como é evidente, o suka trazia-nos uma estabilidade que já tinha do core anterior. Por exemplo, o Logicz defendia com o suka na banana e essa zona desse mapa estava mais que sólida. Ele próprio, como jogador, trazia uma calma diferente, tinha um input constante no jogo, era um jogador já experiente e que trazia coisas novas todos os dias. Era uma verdadeira mais-valia e também por aí faz sentido a FTW o vir buscar. É um jogador completo e que está pronto para assumir aquele papel.

E em termos de map pool, esta mudança pode criar mossa numa primeira fase e obrigar-vos a jogar mapas menos complexos?

Eu acho que sim. Mapas mais complexos, mapas que exigem mais trabalho vão ser trabalhados de forma mais em cima do joelho e vai ter impacto nisso. Mas também acho que qualquer jogador desta equipa não tem problema em trabalhar seja que mapa for. Vai ser uma questão de adaptação do novo jogador. Vamos acabar por incidir nos mesmos ou até trazer mais um mapa.

A Panthers estreia-se esta quarta-feira na décima temporada da Master League Portugal. O jogo é frente à FTW e está marcado para as 19 horas.