O ano de 2022 está terminado no que diz respeito à competição no Counter-Strike: Global Offensive, pelo que é altura de fazer balanços e o FRAGlíder traz mais uma entrevista de uma série que começou com André “Mucha” Muchagata e continua agora com Igor “PIKA” Martins. O também caster teceu as suas opiniões sobre um ano mexido no cenário nacional, mas também não deixou de parte o CS:GO internacional.

As mudanças entre SAW e FTW

“Trocas expectáveis”. É assim que PIKA começa por descrever as mudanças de SAWFTW que abanaram o cenário português a meio do ano. SAW precisava de mudanças depois de falhar os principais objetivos no início da season. Ser um lineup só com portugueses era aliciante e depois de terem assistido ao crescimento da FTW, os nomes que surgem são óbvios pelas roles que necessitavam e ajudou ainda mais o facto de o story já ter trabalhado com eles”, opinou.

Mas o que trazem as entradas de João “story” Vieira e Michel “ewjerkz” Magalhães aos warriors“Parece-me que com a entrada de ewjerkz ganham muito fire power e um jogador para ganhar espaços. Por outro lado, com a entrada do story ganham um pouco mais de rigor tático e o Mut ganha mais uma ajuda para certas decisões e calls”, afirmou PIKA. Ainda assim, nem tudo é ganho: “Parece-me que perdem um pouco da irreverência que o stadodo trazia com a AWP nas mãos, porque o story acaba por ser um support AWP que não procura tanto no early round”.

No que diz respeito à FTW, o caster vê Renato “stadodo” Gonçalves como “o nome que fazia mais sentido para a troca direta com story” e alguém capaz de “trazer a experiência que a FTW ainda não tinha”“Já a troca de kst penso que inicialmente fazia sentido, mas ele acaba por não encaixar bem e o nível individual também ficou um pouco abaixo do esperado. Fiquei um pouco surpreso pela troca tão cedo, mas sou da opinião que se era para alterar, mais valia ser logo no início para se evitar perder tempo. Suka parece-me um jogador inteligente e com bala, mas que precisa de ganhar rotinas neste nível, à imagem de toda a equipa que está a passar pela transição do cenário nacional/ibérico para o internacional”, acrescentou.

Equilíbrio inesperado

O ano em Portugal ficou marcado por divisão de troféus entre FTWSAW. Numa primeira metade de 2022, ainda antes das trocas diretas entre ambos, a fénix sobressaiu e conquistou as principais provas ibéricas, a Master League Portugal e a ESL Masters España. Na segunda metade, os papéis inverteram-se e a SAW venceu essas duas competições, com a FTW a vencer a OMEN WGR Retake, prova que os warriors tinham conseguido no primeiro semestre.

Não contava que existisse tanto equilíbrio entre ambas, começou por analisar PIKA“Mérito para os jovens da FTW, que subiram muito o nível e roubaram tudo na primeira metade do ano, tirando a Retake. Depois das trocas, contava ver os SAW a ganhar mais vantagem no panorama nacional. Contudo, não posso deixar de olhar para o internacional, onde a equipa de SAW se apresentou mais constante em termos de resultados, apesar de ter ficado aquém em algumas situações”, acrescentou.

Um olhar aos outros projetos

O final do ano termina com algumas equipas do cenário ibérico a passar por uma fase de mudanças. A GTZ, que no início do segundo semestre de competição arrancou a todo o gás e ficou perto do apuramento para o RMR, viu sair António “Slaxx” Mota do lineup e ainda procura um quinto elemento.

“É sempre difícil responder a este tipo de questões, porque quando existem mexidas, forçadas ou não, a equipa tem de perceber que tipo de jogador/role procura”, opinou o caster em relação a quem poderá ocupar o lugar vago. “Mediante isso, têm de atacar o mercado onde existe, por exemplo, um Icarus que demonstrou um nível muito bom na final four da MLP e que acho que pode estar pronto para este passo. Ainda assim, não sabemos se as mexidas ficam por aí”, disse ainda.

A verdade é que Diogo “Icarus” Cruz é um de três portugueses que ficaram livres para seguir o seu caminho, depois de terminado o contrato com a VELOXPIKA apresentou alguma cautela em relação ao projeto da organização argentina e não considerou o mesmo uma desilusão total, mas apontou problemas: “É a terceira season consecutiva com um projeto que não consegue chegar intacto à final four da MLP e sendo assim torna-se praticamente impossível ser uma equipa competitiva e sobressair na competição. De qualquer das formas, não sei até que ponto se pode considerar 100% uma desilusão, uma vez que conseguem chegar mais longe que Fourteen e GTZ”.

PIKA analisou vários pontos dos cenários nacional e internacional. (Fotografia: Miguel Pinto/Fraglider)

Em relação ao que pode ser o futuro do trio, Igor Martins afirmou que Icarus pode ser “talvez uma opção para a GTZ” e deixou também um “reconhecimento pelo crescimento” a Rúben “frezbyy” Ferreira, mas indicou que “só com o início das alterações é que teremos a perceção de que tipo de oportunidades vão surgir”. No que toca a shr, a questão pode estar na função dentro de uma equipa: “A manter-se como AWP, não será fácil arranjar uma equipa a título profissional, porque as organizações com esse poder estão com AWPers definidos. Se houver hipótese, talvez Fourteen possa fazer sentido, mas por outro lado existem muitos jovens jogadores a aparecer e que podem ser aproveitados para a criação de um projeto”.

PIKA passou ainda a lupa pelo ano da Fourteen e mostrou-se desapontado com o nível apresentado. Fourteen é um projeto que deixa muito a desejar desde a sua criação. O facto de não se conseguirem impor como uma equipa top 3 nacional é preocupante, isto se olharmos para os nomes que foram surgindo no projeto e as condições que foram oferecidas”, começou por dizer.

Após a opinião inicial, o caster passou a dissecar o ano da organização. “Acredito que os problemas da equipa estiveram na sua raiz. O facto de não ter sido um projeto montado com pés e cabeça preocupou logo de início. Estávamos a falar de uma equipa que tinha teoricamente dois AWPers e acredito que isso tenha sido uma das limitações do projeto. Mas acabou por ser um agregado de problemas”, atirou.

A equipa realizou mudanças na segunda metade da temporada, mas acabou por ficar de fora das grandes decisões no cenário ibérico. “O facto de terem inserido o BLOODZ para IGL é desde logo uma alteração que visa um crescimento com tempo e não algo a curto prazo. Penso que é uma equipa que precisava de ter desde início sangue novo no projeto, como quase todos os projetos nacionais acabam por ter. Não pode ser só uma mistura de experiência e boas relações, também tem de haver vontade de reinventar a sua forma de jogar e adaptarem-se ao momento atual, analisou.

“Acho que a Fourteen abdicou de o fazer em prol de um projeto idealizado pelo fox onde visava o bom ambiente e a comunicação, que eram problemas de projetos passados. Esse é outro dos motivos para eu apontar o dedo, porque não sou da opinião que os jogadores tenham total liberdade para escolher os seus projetos, isto quando falamos de equipas profissionais. Não é um problema apenas da Fourteen, muito menos do fox, mas sim algo que está inserido em muitos casos na nossa scene. Portanto, aqui acho que a organização deveria ter mais pulso firme e controlar o projeto de outra forma logo desde a criação, adicionou.

BIG EQUIPA é projeto passado

Mudámos o tema de conversa para o cenário feminino e para a BIG EQUIPA, que é representada por três jogadoras portuguesas. O intuito era de fazer o balanço da temporada do conjunto ibérico, do qual PIKA era analista. Era, mas antes somos meio que apanhados de surpresa — não houve um anúncio oficial por parte da organização — pela notícia: Já não estou a trabalhar com a equipa há dois meses, por mútuo acordo”.

No que diz respeito ao 2022 da formação feminina, da qual foi analista em grande parte do tempo, PIKA considerou que “a equipa teve oportunidade, especialmente em Valência, de alcançar a meia-final, mas pecou pela falta de experiência e frieza para fechar os mapas”. Pouco depois, deu-se uma troca no projeto: “Alguns problemas levaram à troca da Aidy. Tendo em conta que era IGL e capitã do projeto, passaram algum tempo a tentar solucionar o problema. Apesar da experiência que o Musamban1 acrescenta, houve alguma crise de identidade com a role de IGL, o que levou a algumas alterações de roles e a entrada da Mariam não foi suficiente para colmatar esse problema, uma vez que as prestações na temporada transata também foram inconstantes”.

No entanto, parece que há nova troca na equipa, que apresentou uma nova jogadora nos qualificadores para a ESL Impact Katowice 2023“Acho que está uma nova alteração à vista e pode ser que as coisas voltem finalmente ao rumo certo. Torço pelo sucesso delas”, comentou PIKA.

O cenário internacional

Para fechar em beleza, os horizontes estenderam-se ao cenário internacional e ao que foi o ano entre as principais equipas da modalidade. “Acaba por ser um ano com algumas surpresas. O domínio de FaZe é surpreendente na primeira metade do ano, mas seguida de perto por NAVI, que teve um ano atípico pelos motivos que sabemos, e ENCE, que após a saída de Spinx e as alterações ficou fragilizada”, começou por analisar.

“G2, Vitality e Astralis deixaram a desejar com os seus projetos e acabaram por ficar longe das expetativas geradas e por sofrer alterações ao longo do ano. A Cloud9 penso que esgotou ao longo deste ano as oportunidades de vencer um grande título internacional e já há rumores de alterações. A Liquid consegue roubar YEKINDAR à G2 e tira também a oportunidade de ouro à NAVI, que numa troca direta com sdy podia voltar a ser dominante. No entanto, a maior surpresa é o Major do Rio onde temos Outsiders a ser recompensada pela disciplina que Jame incute nas suas equipas. Heroic, por sua vez, termina o ano como a equipa mais constante”, acrescentou.

Ainda sobre o ano de 2022, PIKA deixou uma palavra de apreço a um conjunto brasileiro e algumas críticas a outros projetos: “Queria dar uma palavra de apreço às prestações da FURIA no Major do Rio, porque fizeram todos acreditar que seria possível voltar a dar um Major ao cenário brasileiro. NIP, OG e BIG, por diferentes motivos, são equipas que também deixaram a desejar e com o fechar do ano espero ver algumas reformulações, ainda que possam não passar por mudanças nos lineups”.

Para 2023, o caster português prevê que a entrada de Anubis vai deixar algumas equipas aproveitarem-se desta fase inicial onde tudo é novo e uma surpresa. Ainda assim, para PIKA “pode ser um ano marcado por mais um domínio parcial de FaZe, a não ser que NAVI faça uma alteração de génio”. O português afirmou ainda que “é a última oportunidade para Vitality e G2 se não houver mudanças até lá” e que Heroic pode ser novamente uma das equipas a entrar melhor em 2023, sendo que beneficia com a entrada do Anubis, já que Dust2 era o seu perma ban.

Igor “PIKA” Martins foi o segundo caster português a fazer um balanço do ano de 2022. Anteriormente, o FRAGlíder já tinha conversado com André “Mucha” Muchagata sobre as suas opiniões em relação ao ano no cenário competitivo.